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Terça-feira, Outubro 8, 2024

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A evolução da agricultura portuguesa no século XX: vicissitudes e desafios.

Ao longo do século XX, a agricultura portuguesa enfrentou várias dificuldades e transformações. Antes da revolução industrial, era a principal atividade económica, sustentando a sobrevivência das populações. Os agricultores, para proteger os seus interesses, criaram cooperativas e outras organizações de caráter coletivo.

Com o passar do tempo, o setor agrícola evoluiu significativamente, passando do uso do arado de madeira, puxado por animais, para máquinas altamente sofisticadas, telecomandadas. No entanto, apesar dos avanços tecnológicos que se seguiram ao 25 de Abril de 1974, a agricultura continua a ser, muitas vezes, considerada o “parente pobre” da economia. Enquanto Portugal investiu em infraestruturas como autoestradas e pontes, financiadas por fundos da União Europeia, muitos caminhos agrícolas, como os do concelho do Fundão, permanecem intransitáveis, tal como no tempo dos carros de bois. Propriedades na zona de rega da Cova da Beira sofrem com a falta de acessos adequados, levando comerciantes a recusarem-se a recolher produtos como milho e leite devido às más condições dos caminhos.

Na primeira metade do século XX, a agricultura era predominantemente extensiva, centrada em cereais de sequeiro e pecuária. As técnicas agrícolas eram rudimentares, com a mobilização da terra dependente da força humana e animal, utilizando alfaias datadas do tempo dos Árabes, como arados e carros de madeira, e sistemas de irrigação tradicionais como a nora e a picota.

Para se protegerem e melhorar a sua condição de vida, os agricultores criaram várias organizações, como a Federação Nacional de Produtores de Trigo (FNPT), cooperativas de frutas e legumes, adegas e lagares cooperativos, cooperativas de queijo, mútuas de gado e seguros, e cooperativas de crédito. Estas instituições permitiram a concentração da oferta de produtos e uma maior capacidade de negociação para obter preços justos pelo seu trabalho.

Contudo, ao longo dos anos, estas organizações sofreram reveses. A FNPT, fundada em 1932 como uma federação representativa dos produtores de trigo, foi transformada em instituto público e, após o 25 de Abril, passou a ser uma empresa pública, acabando por ser privatizada. Os agricultores, que durante anos contribuíram financeiramente, acabaram por não beneficiar do processo.

As cooperativas, por sua vez, foram fortemente afetadas por conflitos partidários, com uma tendência crescente para o encerramento ou substituição por entidades privadas. Este desmantelamento diminuiu significativamente o cooperativismo, deixando os agricultores desprotegidos.

No início da 1.ª República, o governo provisório de Teófilo Braga criou a legislação que permitiu a organização de cooperativas de crédito agrícola mútuo, promovendo valores de solidariedade e ajuda mútua entre agricultores. Estas cooperativas permitiam aos agricultores financiar-se a taxas mais favoráveis. No entanto, no final dos anos 90 e início dos anos 2000, muitas destas cooperativas foram transformadas em bancos universais, mantendo o nome de cooperativas, mas perdendo os princípios cooperativistas originais. Os estatutos foram alterados para perpetuar a gestão de alguns dirigentes, afastando-se da missão original de apoio aos agricultores.

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