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Quarta-feira, Abril 24, 2024

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“Este Museu é um «Ferrari» que passou para as mãos da Câmara para conduzirmos, sem olharmos para o futuro de uma maneira meramente economicista”, diz presidente da Câmara de Estremoz (C/SOM E FOTOS)

 

O novo Museu Berardo Estremoz, situado no Palácio Tocha, abriu esta quarta-feira, dia 22 de julho, à comunicação social e contou com a presença do Comendador Joe Berardo, de Francisco Ameixa Ramos, presidente da Câmara Municipal de Estremoz e dos Comissários da exposição “800 Anos de História do Azulejo”, Alfonso Pleguezuelo e José Meco.

O Museu Berardo Estremoz é uma iniciativa conjunta da Associação Coleção Berardo e da Câmara Municipal de Estremoz e apresenta aquela que é considerada a maior e mais importante coleção privada de azulejos do nosso país. Composta por conjuntos azulejares in situ, património integrado na Quinta e Palácio da Bacalhôa (Azeitão) e no Palácio Tocha (Estremoz), e por mais de quatro mil e quinhentos exemplares móveis, datados do século XIII ao século XXI, a Coleção Berardo permite percorrer a secular História do Azulejo.

Instalado no histórico Palácio Tocha, ele próprio enriquecido por alguns magníficos conjuntos de azulejaria tardo-Barroca e Rococó, o Museu Berardo Estremoz conta as estórias e a História dos últimos oito séculos da azulejaria, através da exposição inaugural, intitulada “800 Anos de História do Azulejo”. Este novo museu corresponde a um investimento superior a 2,6 milhões de euros, com comparticipação de 85% de fundos europeus.

Em declarações à Rádio Campanário, Francisco Ameixa Ramos admitiu que “não era, de facto, este o momento em que gostaríamos de por à disposição das pessoas esta pérola que Estremoz passou a ter”, e também “o tipo de abertura que gostaríamos de fazer. Queríamos fazer uma inauguração à altura daquilo que aqui está”.

Para o autarca, “não obstante estarmos a viver esta pandemia de consequências ainda incalculáveis e condicionadoras de todos os momentos, inclusive também da perspetiva cultural, eu penso que a cultura é sempre oportuna seja em que momento for, e eu acho que não só Estremoz, mas o Alentejo e o país têm à sua disposição um rol de coleção de azulejos ímpar a nível mundial e estas grandes obras só são valiosas se puderem ser postas à disposição das pessoas. Se tiverem encaixotadas, não têm qualquer valor”.

Para Francisco Ameixa Ramos, o Município de Estremoz e a Associação Coleção Berardo “decidiram, em boa hora, fazer aqui duas coisas: recuperar um edifício emblemático, que estava completamente abandonado e, simultaneamente, dar-lhe uso que poderá ser visitado em breve, que é esta panóplia brutal de azulejos que temos, representando 800 anos de história de Portugal e também com muita representação de outros países como Espanha”.

Questionado sobre as especulações que tem havido sobre a obra ter sido financiada com fundos europeus, o presidente da Câmara de Estremoz afirma que “não sou a melhor pessoa para dar essas explicações. Não é uma obra do Município de Estremoz e como tal, apenas o promotor, que é a Associação Coleção Berardo, é que poderá dar pormenores sobre essa questão”. Mas, de acordo com o autarca, “os avisos que são abertos para candidaturas para recuperação de imóveis são abertos a privados. E que eu saiba, o Comendador Berardo não tem nenhuma limitação nem tem que ter nenhuma diferenciação em relação a todas as outras candidaturas que foram apresentadas”.

Francisco Ameixa Ramos refere que “tenho sempre dificuldade em perceber esse tipo de questões, tendo em conta que não conheço, em relação ao Comendador Joe Berardo, que lhe tenham sido retirados quaisquer direitos enquanto cidadão. E como não lhe foram tirados esses direitos, tem todo o direito em apresentar candidaturas, como qualquer outra pessoa”.

“O valor do financiamento também não sei de cor, nem tenho que o saber e obviamente se o soubesse, não o diria, foi publicitado na obra, mas isso foi de certeza apreciado por quem de direito, nesse caso pela CCDR Alentejo, em função do orçamento que foi apresentado para a recuperação deste edifício e teve de certeza o mesmo tratamento que todas as candidaturas que apareceram, sem qualquer discriminação positiva ou negativa. E é assim que tem de ser”, esclarece o autarca de Estremoz.

Relativamente às obrigações de cada uma das entidades, Francisco Ameixa Ramos menciona que “há quatro anos, a Câmara Municipal de Estremoz e a Associação Coleção Berardo fizeram um protocolo em que, aquando da conclusão das obras e da instalação desta exposição, passaria para a responsabilidade da autarquia, durante um período de cinco anos, renováveis por igual período, a gestão do que aqui está. E aí há obrigações e há direitos de ambas as partes”.

Ao Município de Estremoz compete “fazer a gestão do que está no Museu, dos funcionários, pagar as contas de água, luz e telefone e ter direito à receita da bilheteira na íntegra”. Em relação ao Comendador Joe Berardo, tem a obrigação de “nos ceder o espaço e a coleção a título gratuito e fica com um pequeno espaço, onde terá venda de vinhos e de outros produtos que o Comendador produz”. Para o autarca, é um acordo “perfeitamente equilibrado”.

No que diz respeito à cultura, o edil conta que lhe foi perguntado se o Museu era um “bom negócio” e, segundo ele, “quando se vê a cultura na perspetiva de receita e de despesa, tinha que fechar os Museus do Município, que nenhum dá lucro nessa perspetiva, a Biblioteca, as escolas e os jardins. Se calhar tinha de fechar tudo, porque as entidades públicas não servem para dar lucro, mas sim para satisfazer necessidades públicas. E a questão da cultura vai muito para além do que é a entrada de receitas e do que é a respetiva despesa, que eu não sei neste momento avaliar”.

Questionado sobre o número de visitantes que poderão visitar o espaço, refere “não faço ideia quantos visitantes vamos ter. Se tivermos poucos visitantes, obviamente que a despesa será superior à receita. Se tivermos muitos visitantes, será o contrário. Mas não é isso que importa neste momento, pois a cultura é muito mais do que isso. Não pode ser aferida apenas de uma perspetiva meramente economicista (…) e aquilo que está aqui patente, não vai ser olhada na perspetiva dos valores das receitas das entradas”, garante.

Para o autarca estremocense, “isto é um efeito multiplicador e é isso que esperamos para a nossa região. Seguramente se vier muita gente, a restauração e os hotéis enchem, possivelmente a venda dos produtos da nossa região aumenta e, a partir daí, a Câmara de Estremoz também”, dando o exemplo que “o Município cobra derrama, que incide sobre o lucro tributável das empresas. Se a restauração tiver a ter muito lucro, obviamente que a autarquia vai receber mais derrama”, e “uma das origens pela qual, eventualmente, pode haver um aumento substancial de turismo nesta região, poderá dever-se muito a este museu que temos aqui. Portanto as contas têm de ser feitas com estas variáveis todas”.

Devido ao momento pandémico que se vive, o Museu Berardo Estremoz optou por fazer uma abertura simbólica no dia 25 de julho com a presença de algumas entidades oficiais e convidados. Apenas no dia 26 de julho abrirá ao público geral, com entrada gratuita até ao final do mês de agosto. 

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