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Sexta-feira, Março 29, 2024

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“O Alqueva demorou 50 anos a ser construído, mas continua a haver uma má gestão dos recursos hídricos”, diz Pres. Ass. Agricultores Baixo Alentejo (c/som)

Foto: Voz do Campo

Devido à seca que se faz sentir este ano no Baixo Alentejo, a campanha de rega a partir da albufeira do Monte da Rocha foi cancelada, afetando três mil hectares.

Em declarações à Rádio Campanário, Francisco Palma, Presidente Associação de Agricultores do Baixo Alentejo (AABA), fala sobre as consequências desta “seca sazonal” que está a afetar as culturas do Baixo Alentejo. 

Segundo o Presidente da AABA, “o que temos neste momento é uma seca sazonal. Significa que durante os meses de verão há a ausência total de precipitação, o normal climatológico para o sul de Portugal”.

No entanto, “o problema” desta seca no Alentejo “prende-se com o facto de cada vez mais e com maior irregularidade, haver maiores períodos de seca ou períodos de chuva cada vez mais concentrada, num curto espaço de tempo”.

Este é um “problema estrutural” que para ser resolvido “é preciso criar condições para armazenar a água quando ela cai no Alentejo e no sul de Portugal”.

“Quando chove precisamos de armazenar essa água, porque temos um problema de má distribuição hidrológica. Com o avançar das alterações climáticas vemos que há uma diminuição da precipitação no território cada vez que as décadas vão passando, porque a meteorologia é vista em ciclos de 30 anos, e o que observamos é que cada vez há menor precipitação e essa cada vez vem concentrada num menor número de dias e com grande intensidade. É evidente que precisamos de armazenar essa água. E o sinal que gostaríamos que o Estado ou os nossos governantes sentissem é que realmente precisamos de fazer obras que possam guardar essa água para que possa ser utilizada nos períodos de seca”, explica.

Já há dois anos que não é possível fazer rega a partir da Barragem do Monte da Rocha, no concelho de Ourique (Beja), devido à seca.

Francisco Palma explica que esta barragem “tem problemas de abastecimento porque tem uma bacia reduzida”.

Porém, o Governo já anunciou que a ligação do Alqueva à Barragem do Monte da Rocha está prevista no Plano Nacional de Regadios para 2022. Mas, Francisco Palma explica que “o Alqueva veio dar um impulso e é uma reserva muito grande e há-que preservá-la. O Alqueva só por si não consegue fazer a ligação tão desejada a vários pontos do Alentejo”.

O Presidente reforça a necessidade de “construir mais barragens para essa água, que quando cai, possa ser armazenada, para depois, seja na agricultura, seja para servir as populações, ela possa ser distribuída de uma forma diferente.”

“O Alqueva é uma barragem enorme, mas há que fazer outras e é preciso o quanto antes contruir mais barragens e mais represas de água para que possamos enfrentar este fenómeno da seca que é, de facto, um fenómeno que nos afeta com grande regularidade e que podemos tomar através de construção de barragens”, frisa.

O cancelamento da campanha de rega deste ano a partir da albufeira do Monte da Rocha afetou três mil hectares, segundo a Associação de Regantes e Beneficiários de Campilhas e Alto Sado (ARBCAS), e também muitas famílias que vivem destas culturas.

Desta forma, Francisco Palma relembra que “existe um território, populações, atividade económica, agricultura e para isso é preciso haver água, porque sem água não há vida. Isto tem de ser interiorizado por todos, que a água é, de facto, aquilo que nos pode levar a que possamos ter um desenvolvimento sustentável, que possamos continuar a ter atividade no interior, sem água deixa de existir tudo”.

O Presidente reitera a necessidade de “investimentos e, neste momento, através dos Fundos que dizem que vêm da União Europeia para poder retomar a atividade económica na União Europeia depois da pandemia, seria importante que olhássemos de uma forma séria para a questão da água que é vital para o desenvolvimento do território”.

Questionado se as obras de ligação do Alqueva à barragem da Fonte Serne que deverá estar pronta no próximo ano, ajudarão a minimizar estes problemas, o Presidente apenas refere que “essa barragem, como outras barragens, estão num plano nacional do regadio, há várias barragens que estão mais que estudadas. Veja-se o caso mais paradigmático, que é o Alqueva, foi iniciado um projeto nos anos 50 e foi terminado à pouco mais de cinco anos”.

“A água é uma condição para que se possa fixar a atividade económica, pessoas e para que se possa criar riqueza. A água é um recurso natural, Portugal não é um país escasso no que diz respeito à água, temos é feito uma gestão dos nossos recursos hídricos muito deficiente, muito má e muito pouco objetiva, no sentido de pensar que a água é geradora de riqueza, que a água pode fazer com que nós possamos criar mais riqueza. Temos esse fator à nossa disposição, temos é de arranjar formas de o armazenar e temos de aproveitar isso e não deixar fugir esse recurso”, conclui.  

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