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Sexta-feira, Março 29, 2024

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Rádio Campanário – Marisa Matias candidata presidencial apoiada pelo BE diz “o que é preciso é um encontro entre as várias instituições, haver uma conferencia europeia para debater as questões da divida” (c/som)

Marisa Matias, eurodeputada desde 2009 é a candidata apoiada pelo Bloco de Esquerda à Presidência da República.

Numa grande entrevista à Rádio Campanário, Marisa Matias de 39 anos expôs os motivos que originaram a sua candidatura dizendo que “houve várias razões que estiveram na base da sua decisão de candidatura, nomeadamente “o novo ciclo político que estamos a viver em Portugal e que ficou demonstrado no último processo das eleições legislativas e que todos os espaços políticos devem ser ocupados, não estamos já numa situação em que nos debates políticos temos sempre os mesmos protagonistas, há neste momento condições para fazer politica de uma forma diferente, mais perto das pessoas e olhando para os nossos candidatos, não havendo a possibilidade de um candidato mais à esquerda que pudesse unir todos os partidos, penso que o espaço que eu procuro ocupar nesta candidatura não estava ainda ocupado”, considerando-se uma boa conhecedora de Portugal “a partir de dentro mas também a partir de fora numa altura em que as relações com as instituições europeias e as instituições internacionais são tão importantes, penso que represento uma nova forma de fazer politica, mais ligada às pessoas como também posso trazer para o debate das presidenciais essa capacidade de poder rebater face à posição que ocupo”.

A candidata presidencial diz que “ficou bem demonstrado nas últimas legislativas que o facto de haver projetos diferentes não impede qualquer tipo de acordo, neste momento já nem sequer é uma questão politica, é uma questão matemática”, frisando, “quando há um candidato do PSD e do CDS que é tão forte e que há muito tempo têm tido uma exposição mediática elevadíssima, que o apresenta como favorito, é obrigação não deixar nenhum espaço desocupado. Quanto mais candidatos houver à esquerda mais soma, não subtrai, mais pessoas se podem mobilizar e participar”.

Quando questionada se é uma candidatura para levar até ao fim e não de intenção, Marisa Matias refere que “ninguém coloca um barco no mar para ficar pelo caminho (…) a sociedade está em permanente transformação e a política acompanha a sociedade, neste momento ainda estamos todos em pé de igualdade, estamos todos no processo de recolha de assinaturas, não há ninguém que neste momento tenha já as 7500 assinaturas recolhidas, depois veremos na formalização de candidaturas quantas é que ficam (…) a minha posição é ir até ao fim”.

Sobre a Constituição da República, Marisa Matias diz-se de acordo, “é aquela que permite a melhor maneira de aplicar os direitos básicos e sociais à habitação e saúde e por outro lado como está bem inscrito no artº 8º da Constituição, permite ancorar o que diz respeito aos compromissos internacionais, está não só em dia e atualizada, como de acordo com qualquer ciclo político e o círculo político atual”.

Quando instada a comentar o número de deputados eleitos nas últimas eleições legislativas, a candidata presidencial refere que “ao longo da campanha pôde comprovar que o resultado não foi uma surpresa e quando saíram os resultados das projeções batiam certo com o que eu pensava que iria ser (…) nós temos uma prática comum antes das eleições em escrever num papel qual o número de deputados que achamos que vão ser eleitos e o número que eu escrevi foi o de 16 deputados, não andei muito longe do que acabou por acontecer”.

Sobre a coligação pós eleitoral com o PS e o PCP numa altura em que o BE conseguiu o seu maior número de deputados, Marisa Matias diz que “quem acompanhou a campanha sabe que nos debates essa possibilidade foi sempre colocada pelo Bloco, foi a única força política que a colocou no debate entre a Catarina Martins e o António Costa, a Catarina explicou bem quais eram as três condições para o acordo (…) as propostas concretas e objetivas e as condições que foram colocadas pelo BE durante toda a campanha e nos debates eram três muito básicas, recuperar os salários e as pensões, a defesa do Estado Social e a defesa da segurança pública (…) claramente exequíveis (…) o Bloco de Esquerda fez um compromisso com duas outras forças, uma delas teve mais votos, chama-se Partido Socialista, o que nós conseguimos garantir foi que o salário mínimo iria aumentar progressivamente nos próximos três anos (…) um aumento de 4% (…) um salário mínimo neste momento está em 505,00€, estamos a falar de um aumento de cerca de 20,00€ a cada mês, se continuássemos com a coligação de direita seguramente não tínhamos um aumento, tínhamos o agravamento por via do aumento de impostos indiretos e aqui o que se consegue é um aumento direto mas também um reforço da capacidade do poder de compra dos trabalhadores em Portugal”.

“Há cinco países na Europa, incluindo o Luxemburgo, em que o Primeiro-ministro é o líder da força politica mais votada, em Portugal é a primeira vez mas é uma normalidade no espaço europeu”, destaca. 

Questionada sobre se se revê no programa económico do espaço europeu, a candidata diz que não se revê “em muitas das decisões que têm sido tomadas, mas tanto me revejo no projeto europeu e no espaço europeu que, se assim não fosse, não conseguiria ao longo destes últimos seis anos, conseguido aprovar o conjunto de legislação que aprovei fazendo acordos desde a esquerda à direita”.

Relativamente à coligação com o PS, PCP e BE, Marisa Matias afirma que o acordo “consagra todos os compromissos europeus, consagra todas as responsabilidades, a única diferença e a principal, é que em vez de continuar a roubar dinheiro a quem trabalha, aos pensionistas e ao Estado Social, faz uma redistribuição mais justa dos recursos existentes em Portugal, a ligação e a relação com as instituições europeias, é obvio, que tem que ser feita, mas é feita a partir de uma base diferente e não está escrito em lado nenhum que as instituições europeias e a legislação seja incompatível com a proteção dos salários, as pensões e o Estado Social em cada um dos países e nós não podemos ter uma União Europeia contra os países, o que tem havido é um Governo em Portugal que opta por ir buscar aos rendimentos do trabalho e das pensões e do Estado Social, aquilo que são os meios para corresponder a esses compromissos e deixa de fora as multinacionais e as grandes fortunas”.

Sobre o perdão ou renegociação da divida, Marisa Matias considera que a “a candidata à Presidência da República tem a noção que as dívidas dos países do sul são insustentáveis mas toda a gente tem essa noção, enquanto houver margem de manobra para continuar a fazer negócio à custa das dividas, vão continuar a fazer-se, mas elas serão renegociadas e estruturadas mais cedo do que tarde”.

“A nossa dívida é insustentável, tem que se renegociar os juros, os tempos de pagamento, isso tem que ser feito e vai ser feito, não tenho nenhuma dúvida, nós pagamos mais em juros da dívida e em Parcerias Público Privadas (PPP), neste momento”, destaca.

Sobre o timing da renegociação da dívida da Grécia, a candidata declarou que a discussão da mesma vai ser em janeiro, “está no acordo (…) o que é preciso é um encontro entre as várias instituições, haver uma conferencia europeia para debater as questões da divida, todas, não é apenas a portuguesa ou a grega, estamos a entrar num sistema em que as dividas dos países do sul não param de aumentar e a austeridade agrava essas dívidas, não as reduz, por isso é que nós temos 90% da dívida pública implementamos num programa de austeridade brutal (…) isto tem que ser refletido e basta ouvir os discursos do presidente da Comissão Europeia, dos diferentes comissários para se perceber que isso está na agenda, mas isso não se sabe, mas será mais cedo do que tarde”.

Sobre o facto do BE nunca se ter sentado à mesma mesa de negociações com o PS e o PCP e o que os distância, Marisa Matias declarou que não esteve na equipa de negociação, “saberei com certeza mas também me reservo no direito de não falar sobre o assunto”.

 

 

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