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Arqueólogos “mergulham na história” da costa litoral alentejana

Fabrice Demoulin

A costa litoral alentejana caracteriza-se por uma vasta extensão de areal que se estende do topo norte da península de Tróia até ao cabo de Sines, que está protegida dos ventos predominantes de Norte e constitui uma zona de abrigo natural à navegação que tem registado um elevado número de naufrágios, sobre os quais apenas se conhecem os vestígios materiais de uma dezena.

O Instituto de Arqueologia e Paleociências (IAP NOVA/FCSH) com protocolos celebrados com as autarquias de Alcácer do Sal, Grândola e Sines tem vindo a realizar trabalhos de investigação de arqueologia náutica e subaquática – Contributo para a Carta Arqueológica Subaquática de Grândola e Contributo para a Rotas Comerciais da Região Sado no século XIX – que permitiram reunir um conjunto de informação relevante e a criação do Centro de Arqueologia Náutica do Alentejo Litoral (CANAL) num espaço cedido à Universidade Nova de Lisboa pela Câmara Municipal de Alcácer do Sal.

A base de dados do património cultural subaquático português contém inúmeras declarações de achados e avistamentos de artefactos e de contextos, sendo que a maioria nunca foi verificada, registada e avaliada. Daí nasceu a necessidade de se conseguir financiamento para um projecto destinado à realização de missões de prospeção e localização de sítios arqueológicos submersos ou de interface no Litoral Alentejano. Por essa razão o projecto “Um Mergulho na História” foi candidatado ao programa de 2018 do Orçamento Participativo do Estado Português, tendo sido o mais votado da região do Alentejo e aprovado com o financiamento de 300.000,00€ com o prazo de execução de 2 anos.

O SUBPORTAL 2019-2021 “Um Mergulho na História” é um Projeto Plurianual de Investigação de Arqueologia que integra investigadores especializados da arqueologia náutica e subaquática, da robótica submarina, da história e da biologia marinha, as Câmaras Municipais de Alcácer do Sal, Grândola e Sines e voluntários, articulando-se entre si no intuito de localizar e registar o património cultural náutico e subaquático, incluindo as paisagens marítimas, fluviais e adjacentes do litoral do Alentejo Litoral, envolvendo as populações locais para a sua consciencialização sobre o valor patrimonial da cultural marítima desta região.

Para uma leitura integrada dos aspetos relacionados com a navegação e o seu impacto nas populações locais, está a ser desenvolvida uma pesquisa documental em arquivos e bibliotecas, bem como a investigação arqueológica dos vestígios de embarcações e outras estruturas de apoio à navegação, através de contactos com utente do mar – mariscadores, pescadores, mestres de arrasto, caçadores submarinos e mergulhadores amadores – no sentido de os sensibilizar para a forma com que surgem debaixo de água os vestígios arqueológicos subaquáticos mais comuns, correlacionando as informações obtidas com sítios já referenciados, ou criando novas referências. Serão também realizados trabalhos de prospeção com recurso a submarinos autónomos LAUV (Light Autonomous Underwater Vehicle), drones, aeronaves e mergulhadores que referenciarão as áreas de prospeção arqueológica, bem como trabalhos de georreferenciação, criação de mapas dos sítios, a análise e reconstrução virtual digital dos contextos arqueológicos e o seu registo, catalogação e inventariação.

O projecto prevê também a comunicação regular à imprensa, nas diversas fases do processo de investigação, em articulação com os gabinetes de comunicação das Autarquias Locais, nesse sentido se divulga a Intervenção Arqueológica a realizar no âmbito do projecto “Um Mergulho na História”.

Numa duna da Península de Tróia existe um local onde, à superfície, uma larga dispersão de material arqueológico sugere nele ter existido actividade humana quotidiana que terá decorrido num arco de tempo desde a segunda metade do século XIX até ao início do século XX (c. 1850 – 1920).

Os materiais encontrados – cerâmicas de variada tipologia, metais e vidros, entre os quais panelas, alguidares, pratos, garrafas, taças e copos, a maioria manufacturados em Portugal e  outros, poucos, importados de Inglaterra – apontam para um sítio onde os seus ocupantes viveriam um quotidiano doméstico, numa cabana de colmo, hoje completamente desaparecida, o que não é surpreendente porque este tipo de estruturas habitacionais, construídas com materiais perecíveis tais como caniços e barro, não deixam quaisquer evidências da sua existência no local.

É exatamente por ter sido tão efémera esta construção que se torna crucial identificar e diagnosticar este sítio através da análise dos restos materiais deixados por quem ali viveu.

Assim, entre os dias 2 e 20 de Setembro, no âmbito do projecto “Um Mergulho na História”, um grupo de arqueólogos, com a participação de alunos do curso de Arqueologia da FCSH-UNL, irá trazer à superfície a história daquele sítio, pela execução de trabalhos arqueológicos que contam com o apoio da Junta de Freguesia do Carvalhal, do Tróia-Resort e da Câmara Municipal de Grândola. 

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