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Sábado, Abril 20, 2024

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Beja é a capital portuguesa da arte visigótica

António Cunha

O Convento da Conceição, em Beja, é o mais rico de todo o Alentejo, mas é na sua Igreja de Santo Amaro que o legado visigótico se sente com mais intensidade.

Foi fundado pelos netos de Dom João I, o infante Dom Fernando e sua prima e esposa Dona Brites (ou Beatriz), o convento foi construído em 1459 e destinado à ordem das franciscanas de Santa Clara sob a designação de Real Mosteiro de Nossa Senhora da Conceição. Em 1470, contudo, a morte surpreendeu Dom Fernando e foi Dona Brites quem se encarregou da continuação dos trabalhos, com o auxílio dos filhos, Dona Leonor, futura rainha, e Dom Manuel, o futuro Rei Venturoso da chegada à Índia.

Implantada sobre uma antiga necrópole romana, a obra beneficiou da imensa colecção de um padre erudito e apaixonado pela Antiguidade. Frei Manuel do Cenáculo foi o pai informal da arqueologia alentejana, recolhendo uma quantidade considerável de obras de arte, algumas integrando a própria estrutura do edifício. Juntou-as por critérios mais antiquaristas do que históricos, mas foi um dos principais responsáveis pela preservação de importantes vestígios. O acervo é constituído por valiosas colecções arqueológicas e artísticas, abarcando a Pré-História, a Idade do Ferro (com a magnífica estela da abóbada), aromanização, a ocupação árabe e o mais vasto espólio de arte visigótica que se encontra exposto na dependência da Igreja de Santo Amaro. Este núcleo é a concretização do sonho de diversos artistas e estudiosos que defenderam a existência de um núcleo visigótico no Museu Regional de Beja Rainha Dona Leonor. A sua criação obedece a uma lógica histórica, uma vez que a Igreja de Santo Amaro foi fiel depositária de registos romanos, paleocristãos e medievais, embora tenha sofrido diversas renovações desde a sua edificação no século XV.

Os capitéis que servem de pano de fundo para a exposição de peças e utensílios característicos da mesma era artística, com datação dos séculos VI a VIII, mantém-se in loco, como zeladores atentos de um período que foi caindo no esquecimento. Com o tempo, o núcleo foi enriquecido com peças de ourivesaria e elementos arquitectónicos provenientes de escavações na região.

O tesouro da colecção é a espada de um guerreiro, recuperada no início do século XX numa sepultura das imediações do Convento de Santa Clara de Beja. É um testemunho de uma época violenta e de combates na Lusitânia pelo controlo da província. Repousa hoje em Beja, no coração de um dos mais especiais museus portugueses.

Fonte: National Geographic/Texto: Paulo Rolão

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