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Sexta-feira, Março 29, 2024

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Conheça os 3 pilares de desenvolvimento do projeto de 59,6 M€ para a Zona dos Mármores (c/som)

Na sequência do anúncio de um projeto candidatado ao Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), que prevê angariar cerca de 59,6 milhões de euros para o sector dos mármores, elaborado em parceria com mais de 50 entidades, a Rádio Campanário entrevistou José António Ferreira Porfírio, Professor Auxiliar da Universidade Aberta e coordenador do “Stone Cast”, que nos revelou todos os detalhes desta iniciativa.

Além de prof. universitário na área da estratégia, José Porfírio falou como “responsável de uma empresa que ajudou a conceber este projeto para o promotor deste projeto”, que “visa pegar nos desafios do sector e transformá-los em oportunidades”, como é o exemplo do “problema das escombreiras, que é uma questão ambiental, uma questão de gestão do território e também a questão da imagem e da mão de obra do sector”.

O que este projeto preconiza é a partir de indústrias que vão ajudar a ultrapassar os desafios do sector, nomeadamente na área das escombreiras, mudar o paradigma de competitividade, colocar as indústrias numa lógica de funcionamento 4.0” e “a partir daí ajudar a promover todo o desenvolvimento da região, em torno daquilo que nós entendemos que é orgulho da própria região, que é a o potencial deste sector e do Mármore”.

Na área ambienta, “este projeto tem todos os ingredientes que o PRR define”, salienta. Pois “começa por ser um projeto que aposta muito no âmbito da economia circular”, isto é, “vamos transformar aquilo que é um potencial problema, que são as escombreiras, numa oportunidade”, que “é feita através do desenvolvimento de indústrias que vão aproveitar as escombreiras, dar-lhe um valor económico e transformar num produto que é importante”.

Assim “estamos a falar numa indústria, em primeiro lugar, na indústria do «stone papper», ou seja, produzir papel a partir do pó da pedra”, evitando assim “a indústria da celulose”. E a partir daí “vamos ajudar a desenvolver outros sectores e outras áreas ligadas à região, nomeadamente através de indústrias culturais e criativas, através da capacitação da própria indústria”. Algo que será “um pequeno grande movimento, que vai fazer com que a indústria possa pensar numa reestruturação da forma como ela própria opera”, explica José Porfírio.

Desta forma, “vamos apostar na transição digital de toda esta indústria”. Algo que será “feito, logo à partida com o promotor e responsável do projeto, que é uma grande tecnológica nacional, que pertence a um grande grupo internacional, que nos deu todo o seu aval para que o projeto pudesse começar a ser concebido”.

Por outro lado, “há uma grande aposta na investigação, que é orientada para a inovação e desenvolvimento”, explica. Pois “entendeu-se, desde o princípio que este é um setor que já tem muitos estudos, que tem muito trabalho já feito de campo e o que é preciso é que esse trabalho e esses estudos se traduzam em inovação e desenvolvimento do setor”.

Uma vontade e “um projeto que nasce daquilo que é o sentimento dos empresários de que é possível fazer mais do que aquilo que tem sido feito até aqui”. Desta forma, “mais do que a transição ambiental e esta lógica de economia circular, é este novo paradigma competitivo e é o efeito que isso vai provocar”, a partir do mármore, “noutros sectores da região”.

Este é um projeto que a melhoria da cadeia de valor da própria indústria, pois “nós queremos que aquilo que verdadeiramente traz valor àquilo que é produzido fique no território nacional”. Para que “esta indústria, que exporta mais de 50%, reforce este peso em matéria de exportação, mas que o faça com um valor acrescentado muito superior”. Daí também a “aposta na requalificação da mão-de-obra do sector e dos próprios empresários”.

Questionado sobre a legislação existente para este sector, José Porfírio considera que “o problema de imagem do sector tem afetado a forma como a legislação vai sendo emitida”, considerando que “muitas vezes essa questão legislativa decorre muito mais de opinião pública do que do conhecimento efetivo das atividades”.

Desta forma, “aquilo que o projeto pode ajudar é, com esta mudança de imagem, com esta maior transparência de funcionamento do sector, acreditamos que também vai ajudar a que o legislador vá perceber melhor a sua forma de funcionamento e possa de alguma forma facilitar o seu desenvolvimento”.

Por outro lado, “o setor mineiro é um setor crítico para o desenvolvimento de qualquer economia”, realça. Ao mesmo tempo “queremos um país a funcionar já num paradigma de desenvolvimento sustentável”, que é “o princípio deste projeto”. Tendo como primeiro objetivo de reduzir o nível de desperdício existente, que é de “cerca de 80%, que vai para as escombreiras”.

Com a possibilidade, inclusive de ligar este desenvolvimento a outras áreas, criativas e culturais, mas também turísticas, o Prof. José Porfírio diz que “não estamos a inventar a roda, já outros países o fizeram”. Mas “o que nos faltou até agora, foi uma estratégia concertada de atuação e é isso preconizamos”, reunindo mais de 50 parcerias, entre instituições públicas e privadas.

Explicando que o projeto assenta essencialmente na implementação três indústrias, como a do “stone papper”, uma indústria ligada às casas modelares, de painéis modelares e uma indústria às finas espessuras do mármore, que “vão funcionar a partir essencialmente de mão de obra qualificada”, o professor diz que “estas indústrias serão todas construídas na base de técnicos superiores, quadros altamente qualificada”. Depois desta vaga, o objetivo é promover a formação dos quadros existentes.

Porém, com os processos de reforma em curso, devido às alterações legislativas que permitiram a sua antecipação, “vamos ter uma escassez de mão de obra, portanto as indústrias correm o risco de parar”, assim “o que queremos é uma visão estratégica dos agentes ligados ao sector”, para criar “um caminho conjunto”. Começando por “mudar a imagem do sector” e “trazer mão de obra”. E nesse aspeto, à imagem de outros segmentos, “é provável que tenhamos que importar mão de obra”. Da mesma forma que é possível encontrar soluções habitacionais para essas pessoas, através destas indústrias, garante.

Em termos orçamentais, José Porfírio explicou que dos 59 milhões de euros previstos neste projeto, “cerca de mais de 54% são para o sector produtivo” com “um valor na ordem dos 32 a 33 milhões de euros”. Além disso, “há uma componente forte da componente para inovação e desenvolvimento, que são na ordem dos 13% de todo o valor, que são cerca de 7,7 milhões de euros e depois temos para a capacitação de recursos humanos, temos na ordem dos 9,9 milhões de euros, 16,6% do investimento”, ainda para “qualificação e internacionalização, temos 6,7 milhões de euros” e “temos apenas 2,7 milhões para divulgação e promoção do sector”.

Destacando também que entre os mais de 50 parceiros, “oito são instituições de ensino superior”, como “a universidade de Évora”.

Esta foi uma ideia que surgiu no seguimento de um projeto sobre a história do sector dos mármores, promovido pelo CECHAP – Centro de Estudos de Cultura, História, Artes e Patrimónios, no qual “se percebe claramente que o sector sempre foi muito puxado pela procura, onde a oferta sempre teve um papel pouco dinâmico”. Assim, “o sentimento geral dos empresários com quem fomos falando, foi que podia fazer-se muito mais, e todos os investimentos e apoios dados ao sector podiam ser muito mais bem aproveitados”.

Tendo em conta a oportunidade criada pelo PRR, bem como os desafios da transição climática, “que este sector precisa urgentemente de por em prática”, o professor, considera existir aqui “uma oportunidade”.

Ao mesmo tempo, no que diz respeito à exploração em si do minério, José Porfírio afirma que “ao ritmo que se segue, temos reservas de mármore para os próximos 100 anos”. Havendo também a possibilidade e “reforçar aquilo que é aproveitado comercialmente” e “transformar o problema ambiental numa oportunidade económica”.

Ao nível das parcerias, José Porfírio destaca que a Administração da Agência de Desenvolvimento da Região do Alentejo (ADRAL) foi um parceiro “crítico para nos ajudar a agregar uma série de outros parceiros institucionais”. Entre os quais, entre mais de 15 indústrias, se encontram várias instituições de ensino superior, como a Universidade de Évora, a Universidades de Lisboa, o Instituto Superior Técnico de Lisboa, a Universidade de Coimbra, a Universidade Nova de Lisboa, assim como a Universidade Aberta “que vai ajudar em toda a formação de quadros e de trabalhadores do sector, em parceria com outras instituições”, esclarece. Estão também envolvidos no projeto o Iscte-Instituto Universitário de Lisboa, a Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril, o Instituto Politécnico de Portalegre e o Instituto Politécnico de Castelo Branco.

Depois temos uma área que para nós eu dira que é uma menina dos olhos de ouro aqui do projeto, que é a parte das Indústrias Culturais e Criativas”, afirma. Pois “é preciso criar na região um orgulho sobre aquilo que o sector representa e o seu potencial”. Nesse sentido, “o mármore pode ser e é um fator de desenvolvimento da região e das populações, da melhoria da qualidade de vida e do desenvolvimento em geral”. Como tal, é preciso ir “às raízes deste sector”, juntando também artistas e artesãos nesse processo identitário e cultural.

Por isso também, a Aniet – Associação Nacional da Indústria Extractiva e Transformadora “encara este projeto com extremo otimismo”, diz, pois “percebeu o potencial que nós queremos que o projeto tenha”, podendo por isso “ser muito interessante replicar noutras regiões”.

Por fim, destaca que este “é um projeto que se quer participativo”, onde “todos os parceiros devem ser ouvidos, que têm que ser ouvidos e irão participar com as suas ideias”. Não só pelo um modelo de governação que assim o permita, mas também pela criação de “fóruns que terão meios afetos, em que todos os parceiros vão participar e são divididos nas quatro áreas do PRR”, para identificar problemas e “em conjunto encontrar soluções”. Por isso, o objetivo “é começarmos já a trabalhar, para chegarmos a 2025 com resultados concretos no terreno”.

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