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Estudo da UÉ define música de Sérgio Godinho como sofisticada e inovadora

Apesar da utilização de instrumentos tradicionais portugueses, e de pontualmente utilizar ambientes rítmicos com algumas afinidades com a música tradicional portuguesa, não é isso que define a música do compositor Sérgio Godinho.

A conclusão é de Vasco Belo Agostinho, estudante da Universidade de Évora, que procedeu à transcrição, análise, e estudo da música do compositor com o fim de compreender que elementos musicais estão presentes, explorar a sua viabilidade no contexto da música improvisada, e refletir como é que os músicos improvisadores se podem relacionar com estes elementos na sua performance no âmbito da tese de mestrado em Música, “A música de Sérgio Godinho e sua adaptação para a música improvisada”.

Em nota publicada na página oficial da Universidade de Évora, considerado um dos nomes mais importantes da música em Portugal do Pós 25 de abril, “a sua obra inclui elementos musicais e influências com as mais diversas origens” começa por explicar Vasco Belo Agostinho, relevando que a música do compositor é “dotada de uma enorme sofisticação rítmica, melódica e harmónica que o tornam um músico fundamental, e a sua música um veículo de excelência para o músico improvisador”. 

O estudante da UÉ recorda que a improvisação como método de composição musical existe desde sempre nas mais diversas tradições musicais, onde o jazz, no início do século XX, veio dar um novo fôlego à sua utilização, recorrendo este à música popular da época como ponto de partida para novas peças musicais. 

Desta forma, “não tendo a mesma simplicidade da música popular norte-americana do início do século XX, a música de Sérgio Godinho pode em muitos casos ter de sofrer reduções para que possa proporcionar ao músico improvisador os elementos necessários para a sua utilização” destaca Vasco Agostinho. Por outro lado “a sua riqueza geral pode servir como inspiração uma vez que qualquer arranjo com o objetivo de enriquecer a música se torna desnecessário, ou simplesmente facultativo” acrescenta o estudante para quem ficou claro com este trabalho que ao longo da história da música improvisada a escolha do reportório tem sido um fator de renovação e inspiração para o músico improvisador.

A análise efetuada à música de Sérgio Godinho demonstrou que esta “contém elementos musicais comuns na música improvisada, mas combinados com elementos menos comuns, originais, de considerável sofisticação, que não só podem fazer da sua música um veículo de excelência para a improvisação, como podem ainda suscitar no músico improvisador novas abordagens ao seu reportório habitual” salienta Vasco Agostinho sobre o autor de êxitos como «O Elixir da eterna juventude» ou de «Com um brilhozinho nos olhos».

Como músico de Jazz habituado a admirar compositores como Wayne Shorter, Thelonious Monk, ou John Coltrane só para referir alguns, este estudo “permitiu-me constatar que Sérgio Godinho tem igual nível de sofisticação e inovação na sua música. Isto é aliás o que eu gostaria de destacar neste trabalho” revela, esperando que este trabalho possa “contribuir para que mais estudos deste género sejam produzidos, e que dessa forma seja não só feita justiça a um dos grandes compositores portugueses, como se aproveite uma oportunidade para aprender com um dos mais importantes artistas da nossa história”.

O mestre em Música pela UÉ considera que “numa época de forte globalização, os músicos terão deixado de ser influenciados apenas dentro do seu espaço geográfico, e terão começado a contactar mais com recursos musicais que já não eram exclusivos de uma determinada cultura ou linguagem musical” sugere o estudante, um facto que terá levado a alterações dentro de cada cultura, com especificidades em cada uma, mas também com resultados comuns. 

Foto/Crédito: Universidade de Évora

 

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