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Estudo da Universidade de Évora mostra dados inquietantes sobre a saúde mental dos Estudantes do Ensino Superior

Um estudo coordenado pela Universidade de Évora (UÉ) avaliou a saúde mental dos estudantes do ensino superior tendo-se constatado alguns resultados inquietantes. “O estudo foi realizado porque a entrada no ensino superior corresponde a uma transição complexa. Adicionalmente, estudos internacionais indicam que os jovens foram os que mais sofreram alterações na saúde mental no período pandémico, pelo que sentimos necessidade de realizar um diagnóstico de situação no ensino superior, para, posteriormente, desenvolvermos programas de promoção da saúde mental em ambiente académico” avança Lara Guedes de Pinho, Professora do Departamento de Enfermagem e   Investigadora do Comprehensive Health Research Centre (CHRC), da Universidade de Évora.

 

 

 

A recolha de dados teve início, simbolicamente, no dia 10 de outubro de 2022, Dia Mundial da Saúde Mental. No que concerne à amostra portuguesa, contamos já com 3143 respostas. Neste estudo estão envolvidas 7 instituições de ensino superior portuguesas e 10 instituições de ensino superior de 7 países diferentes (Europa e América do Sul). De entre os principais resultados, destacamos, 7% dos participantes refere que com a pandemia COVID-19 a sua saúde mental piorou; 19,2% dos participantes referiu que já lhes foi diagnosticado algum tipo de doença mental e destes, 4 em cada 10 (40,5%) foi diagnosticado após o início da pandemia. “Os diagnósticos mais mencionados foram a ansiedade (16%) e a depressão (7%), tendo 10% referido ter ambos os diagnósticos” destaca a professora da academia alentejana, acrescentado que 23% dos participantes toma medicação para a ansiedade, depressão, insónias ou outro problema psíquico, mas só metade deles (n=377) já teve consultas de psiquiatria.

 

75,6% apresenta sintomas de ansiedade, sendo que destes, 1 em cada 3 participantes (37,8%) apresenta sintomas moderados a graves de ansiedade” realça Lara Guedes de Pinho, referindo que nos 14 dias anteriores à recolha de dados 42% dos inquiridos refere que se preocupou demasiado com diferentes assuntos, 37% sentiu-se nervoso, ansioso ou irritado e 36% teve dificuldade em relaxar.

 

61,9% apresenta sintomas depressivos, sendo 23,4% sintomas depressivos leves e 38,5% moderados a severos”, acrescenta.  Os problemas que mais incomodaram os participantes foram o sentimento de cansaço ou ter pouca energia (42%) e alterações do sono (38%). Sublinhe-se o facto de 1 em cada 4 (27,1%) participantes ter referido pensamentos acerca de que estaria melhor morto ou de se ferir a si mesmo de alguma forma.  Uma nota para os 27% dos inquiridos que referiu que a sintomatologia depressiva causa muita ou extrema dificuldade na vida académica/trabalho, lida doméstica ou convivência com outras pessoas, o que significa que há prejuízo na funcionalidade.

 

No que respeita à forma como os estudantes procuram ou procurariam ajuda em caso de necessidade, 74% recorre/recorreria à conversa com os amigos. “Destacamos aqui a importância da capacitação dos pares para o reconhecimento da sintomatologia e para a prestação da primeira ajuda/primeiros socorros em saúde mental” destaca a professora. Por outro lado, a “razão mais importante para não procurar ajuda apontada pelos inquiridos é o facto de a ajuda profissional ser cara (58,5%) e o longo tempo de espera para conseguir uma consulta (50,2%)” realça a professora da UÉ. “Perante este facto, é importante uma mudança nas políticas de saúde mental, reforçando o SNS com recursos humanos suficientes para dar resposta às necessidades da população, não só na promoção da saúde mental e prevenção da doença que cabe aos cuidados de saúde primários, como também na reabilitação psicossocial da pessoa com doença.” “Tal como existem estratégias que vão muito além das farmacológicas para a reabilitação física, também existem para a reabilitação mental, sendo estas únicas ainda muito pouco valorizadas e escassas no SNS. Precisamos, pois de uma mudança de paradigma que não fique apenas no papel, precisamos de agir.”

 

O estudo mostra ainda que ser mulher, ter a perceção de pior rendimento académico e ter um nível socioeconómico mais baixo, está associado a mais sintomatologia depressiva e ansiosa, “dados idênticos a outros estudos internacionais”. Já os estudantes deslocados que vão todos os fins de semana a casa apresentam menos sintomas depressivos e ansiosos e os que estão numa relação amorosa apresentam menores níveis de ansiedade, “destacando-se a importância das relações afetivas para a saúde mental”, nota Lara Guedes de Pinho.

 

Os objetivos futuros estão traçados, “queremos criar um modelo de promoção da saúde mental dos estudantes universitários que seja transdisciplinar e centrado no estudante, querendo isto dizer que o estudante participa na tomada de decisão e é um agente ativo no desenvolvimento e implementação dos programas promotores de saúde mental” realça a coordenadora do estudo, indicando que “é necessário ultrapassar as barreiras apontadas e melhorar e rentabilizar a rede de apoio existente com uma perspetiva de autocuidado e de capacitação para que as exigências colocadas pela transição para contexto universitário sejam ultrapassadas de forma positiva”. Ainda sobre os dados agora tornados públicos, a professora sublinha que “com a consciência da complexidade do fenómeno todos devemos estar envolvidos de forma concertada na promoção da saúde mental dos estudantes universitários, investigadores, intervenientes universitários, serviços de saúde, sociedade em geral, órgãos de decisão política e os próprios estudantes”.

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