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Quarta-feira, Abril 24, 2024

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Estufas extinguiram os últimos cinco charcos que serviam de habitats prioritários na costa sudoeste

  Imagem dos charcos prioritários há três anos e agora  lpn

A Liga para a Proteção da Natureza enviou uma queixa para a Comissão Europeia, esta segunda-feira, dando conta da “destruição total” de cinco charcos temporários mediterrânicos, no sudoeste alentejano. Estas áreas húmidas, classificadas como habitats prioritários de espécies em risco da flora e da fauna, tinham sido alvo de um projeto Life de conservação financiado por Bruxelas.

“Os últimos sobreviventes de uma das mais importantes concentrações de charcos no país foram completamente dizimados entre finais de 2019 e inícios de 2020 na zona entre o Carvalhal e a Zambujeira”, lamenta ao Expresso Rita Alcazar, da Liga para a Proteção da Natureza (LPN). Esta organização não governamental do ambiente apercebeu-se recentemente da “extinção” destes sítios da Rede Natura 2000 através de controlo por fotografia aérea desta área do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina (PNSACV). Em vez dos cinco charcos temporários — que serviam de habitat para espécies da flora e da fauna, sobretudo de anfíbios, que não existem em mais nenhum local do mundo — erguem-se agora estufas de plástico.

Aqueles cinco charcos eram os últimos de um conjunto de mais de uma centena que chegaram a existir naquela área protegida e tinham sido cartografados no âmbito do projeto “Life Charcos”, coordenado pela LPN entre 2013 e 2018 e financiado pela União Europeia. Já então, estes habitats estavam ameaçados pelo avolumar das estruturas de plástico da agricultura intensiva no Sudoeste.

Ao procurarem imagens aéreas atuais do local, entre o Carvalhal e a Zambujeira do Mar, os técnicos da LPN verificaram que os charcos tinham sido terraplanados e cobertos por estufas. “O avanço da agricultura intensiva nesta área protegida está na origem deste desastre”, sublinha Rita Alcazar, lamentando “a progressiva degradação da costa sudoeste”.

Os ambientalistas já fizeram seguir uma queixa para Bruxelas, dando conta da situação à Comissão Europeia e informaram o Ministério do Ambiente do sucedido. “Lamentamos que o Ministério do Ambiente e da Agricultura não se articulem e que a atividade agrícola na área do Aproveitamento Hidroagrícola do Mira não se compatibilize com os valores naturais existentes”, acrescenta Rita Alcazar.

A mobilização de terras em sítios da rede Natura e em áreas de proteção sinalizadas pelo plano de ordenamento do PNSACV deveria ser alvo de parecer do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), mas a LPN estima que tal não esteja a acontecer. Os ambientalistas recordam que as inspeções e grupos de trabalho criados para avaliar a gestão do Parque e da atividade agrícola já “apontaram falhas graves e o incumprimento da legislação, como a falta de monitorização da qualidade das águas subterrâneas, do solo, das espécies e habitats, pondo claramente em causa qualquer modelo de coexistência sustentável”.

 
In https://expresso.pt/
 

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