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Quarta-feira, Abril 24, 2024

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Heranças que ficam, vontades que são respeitadas – Na Junta de Galveias.

Preparam enquanto vivem, o que querem deixar depois da morte. E a quem.
Ofertas que elevam fundações, mudam e ajudam o quotidiano de uma tranquila vila Alentejana. Outrora, por motivos religiosos. Agora, maioritariamente por solidariedade, beneficência.

Na pacata vila de Galveias, no distrito de Portalegre – Alto Alentejo – a herança da família Marques Ratão – cinco irmãos sem qualquer descendência, uma mulher e quatro homens – traçou o destino da vila. Após a morte de José Godinho, o último dos Marques Ratão, foi deixada uma fortuna no valor de 56 milhões de euros só no património urbano e rústico recentemente quantificado no estado atual, onde continham hectares de terra, gado, alfaias agrícolas, prédios e a Casa Agrícola Marques Ratão. Tudo deixado à vila. Um terço desta fortuna foi deixada à Fundação Maria Clementina Godinho de Campos, batizada com o nome da matriarca da família, criada 11 anos antes da morte do último descendente, o restante para a freguesia.

“Naturalmente esta herança tem um impacto muito grande na vida da vila e da sua comunidade. A Junta é a maior empregadora da freguesia, dá trabalho a cerca de 80 pessoas. Estamos perante um vasto património urbano e rústico disperso por três distritos (Portalegre, Évora e Lisboa), em oito concelhos e 17 freguesias”, adianta Maria Fernanda Bacalhau, presidente da Junta de Freguesia, que lembra que só 22 anos depois da morte do testamentário é que a autarquia passou a gerir o património com total autonomia, depois de um demorado inventário.

No início deste século XXI, o a vontade de um empresário Português era passado para o papel. Mais precisamente na data de 28 de Abril de 2000, António Champalimaud escrevia o seu testamento cerrado, no pleno uso das suas capacidades de decisão, de sua livre e plena vontade. Um terço da sua herança destinou-a a uma fundação com o nome dos seus pais, chamar-se-ia Fundação D. Anna de Sommer Champalimaud e Dr. Carlos Montez Champalimaud, com o objetivo de desenvolver atividade de pesquisa científica no campo da medicina. Deixou tudo escrito, e decidido numa das maiores heranças deixadas ao país, mais de 500 milhões de euros numa fundação. Fê-lo de forma discreta, e a sua vontade foi cumprida.
Luís Champalimaud, o filho, recorda a atitude do pai. “Ficámos sem pio com o gesto desta magnitude para com o País. Um gesto de patriotismo e generosidade extraordinários”, lembra.

Além destas, a história da Gulbenkian é também uma história de uma herança. Calouste Gulbenkian morre em 1995, deixando em testamento que uma das suas últimas vontades seria criar uma fundação internacional com o seu nome em benefício de toda a humanidade. Está escrito em testamento feito dois anos antes da sua morte. No entanto, a sua fortuna é dividida pelos filhos, pensões vitalícias para alguns familiares, e pela fundação que simbolizasse o que ele era – um colecionador de arte. 
A Gulbenkian nasce exatamente onde Calouste desejava, em Lisboa.

Enrique Mantero Belard é mais um exemplo. Em 1974 deixou 70% da sua fortuna à Misericórdia de Lisboa, com algumas indicações no seu testamento, como a criação de um lar para gente ligada à cultura sem condições financeiras, numa vivenda no Restelo, Residência Faria Mantero, para acolher “pessoas idosas, cultas, de mérito e necessitadas”, como era sua vontade.

O Conde de Ferreira – Joaquim Ferreira dos Santos – empresário, foi um dos mais importantes beneméritos da Misericórdia do Porto, no século XIX.
Deixou 20 mil reis para vestuário de 24 pobres, homens e mulheres, no dia do aniversário do seu falecimento. 20 mil reis para uma enfermaria, 1000 reis para o Hospital dos Lázaros, para entrevados e entravadas, mais 1000 reis para o Asilo do Barão de Nova Cintra, 500 reis ao Asilo das Velhas, e um edifício a construir para ser um hospital de alienados. A Misericórdia do Porto não esquece esses gestos nos dois volumes do livro que lhes dedica com o título “Grandes Beneméritos da Santa Casa da Misericórdia do Porto”.

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