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Quinta-feira, Março 28, 2024

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Leia aqui a Homilia proferida pelo Arcebispo de Évora no Solar da Padroeira hoje em Vila Viçosa

A Rádio Campanário partilha em baixo a Homilia que o Senhor Arcebispo de Évora irá proferir na Eucaristia da Solenidade da Imaculada Conceição, no Solar da Padroeira em Vila Viçosa, na data de hoje.

Mais do que qualquer outro Tempo do Ano Litúrgico, o Advento é o Tempo de Maria, pois é nele que A vemos em mais íntima relação com o Seu filho, ao qual está unida «por vínculo estreito e indissolúvel» (LG 53). Se o Senhor veio ao meio dos homens, se Ele vem ainda, é por meio de Maria. N’Ela se cumpre, na verdade, o mistério do Advento. Enaltecendo a Virgem Maria, esta Solenidade, em vez de nos desviar do mistério de Cristo, leva-nos, pelo contrário, a exaltar a obra da Redenção, ao apresentar-nos aquela que foi a primeira a beneficiar dos seus frutos, tornando-se a imagem e o modelo segundo o qual Deus quer refazer o rosto da Humanidade, desfigurado pelo pecado. No Tempo do Advento, a Solenidade da Imaculada Conceição constitui uma bela preparação para o Natal.

Na primeira Leitura, retirada do Livro do Génesis, Terceiro capítulo, percebemos que o pecado, cujo sinal se apresenta na morte e no sofrimento humano, como também na expulsão do paraíso, sinal da separação de Deus, não afasta de todo a esperança, pois nos deixa a promessa do Deus fiel que um descendente nascido de mulher vencerá totalmente o mal (v 15).  Ao meditarmos nessa promessa, concluímos com esperança com o Teólogo e Biblista Carlos Mesters que não é possível restabelecer a ordem perturbada da vida sem levar em conta o lugar que Deus deve ocupar na vida dos homens. E o primeiro passo foi o próprio Deus quem o deu.

O Evangelho diz-nos que a realização das promessas em Jesus é obra exclusiva da fidelidade de Deus e não do homem, embora não se dê sem o concurso humano representado aqui pela aceitação de Maria, a “Serva do Senhor”, porque Deus é o verdadeiro, único Senhor, e aquela que nesta hora se torna Senhora é sua serva, e é Senhora porque livre no Amor de Deus e jamais escrava do pecado. É o humilde reconhecimento da verdade, da distância entre Criador e criatura, entre a vontade determinante que exige e cria em soberana liberdade e a vontade de uma pessoa humana, cuja liberdade, consiste aqui em adaptar-se à santa vontade de Deus, para tudo conduzir na direcção do Senhor.

“Faça-se em mim” é ao mesmo tempo disposição passiva e adesão activa. Deus pôs o factor humano sob a forma do acontecimento e da história que se pode narrar. Dá-se aqui uma adesão singela e pura à vontade de Deus claramente conhecida. Exactamente nesta evidência é que está a grandeza. O que é determinante para Maria não é o seu próprio desejo, a sua própria vontade, mas a sua total e completa adesão à Palavra do Senhor.

Como nos sintetiza a Segunda leitura retirada do Primeiro Capítulo da Epístola do Apóstolo das Gentes aos Efésios, na verdade a história dos homens tornou-se, por mercê de Deus, uma história de salvação, Toda ela é a realização do desígnio de Deus de salvar os homens em Cristo. E nesta história de Salvação, Maria ocupa o lugar único de ser a última e a mais bela flor do tempo da expectativa, aquela de quem finalmente nasceu o Fruto bendito, que é Jesus; Aquela que é Mãe e Discípula do Emanuel.

Para além desta realidade, Deus quis Maria para a salvação da humanidade, porque quis que o Salvador fosse “filho do homem”; por isso, é aplicada a Maria em sentido pleno a sentença divina ao tentador: “Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a sua; ela te esmagará a cabeça” (Gn 3, 15). E é ela reconhecida como a “nova Eva, mãe de todos os vivos”. O seu Sim à vontade de Deus, apresentado no Evangelho de São Lucas, que acolhemos, inspira o Sim da Igreja em cada um de nós.

Em Maria, Deus completa aquilo que gostaria de ver em cada um de nós. Se à partida se afigura difícil, a Palavra de Deus garante que não é impossível. Esta celebração litúrgica desafia-nos por isso, a ser discípulos ao jeito de Maria, a começar por esta disponibilidade para que se faça em nós segundo a vontade do Senhor. Deus não impõe, como não o fez a Maria. Mas se em Maria quis que o Verbo de Deus se formasse e nascesse para ser Redentor, hoje o Senhor convida-nos a gerar a Jesus no nosso coração e na nossa vida para que O possamos anunciar, testemunhar e transmitir para salvação de tantos e tantas. A receita é a de Maria: deixar que Cristo se forme em nós, e assim tornar possível o difícil, seja na procura da santidade seja no serviço de evangelização que prestamos.

É a partir desta resposta dada em forma de Sim, que relemos a mensagem deste Santuário apresentada em forma narrativa histórica. D. João IV, o Restaurador, no dia 8 de dezembro, assistiu pela primeira vez, na capela real, à festa da Imaculada Conceição. Pregou o sermão, nesse dia, Frei João de São Bernardino, franciscano, que encerrou a sua brilhante alocução com um compromisso: «Seja assi, Senhora, seja assi; e eu vos prometo em nome de todo este Reyno, que elle agradecido levante um tropheo a Vossa Immaculada Conceição, que vencendo os seculos, seja eterno monumento da Restauração de Portugal, Fiat, Fiat.»

Por provisão datada de 25 de março de 1646, D. João IV deu início ao cumprimento da promessa feita em nome do reino por Frei João Bernardino, repetindo e renovando o gesto da primeira aliança, realizada por D. Afonso Henriques, elegendo, com os seus vassalos, a Imaculada Conceição para Padroeira Nacional.

D. João IV, juntamente com o príncipe D. Teodósio, com os representantes da nobreza, do Terceiro Estado e com os cinco bispos presentes em representação de todo o clero, assumiu a seguinte promessa sob juramento: «… prometemos e juramos, com o Príncipe e Estados, de confessar e defender sempre, até dar a vida, sendo necessário, que a Virgem Senhora Mãe de Deus foi concebida sem pecado original…».  Esta aliança do Rei e do Reino com Nossa Senhora, assumiu um compromisso visível assim proclamado: «… ofereço de novo, em meu nome e do Príncipe D. Theodozio, meu sobre todos muito amado e prezado Filho, e de todos os meus Descendentes, Sucessores, Reinos, Senhorios, e Vassalos à sua Santa Casa da Conceição sita em Villa Viçosa, por ser a primeira que houve em Espanha desta invocação, cincoenta cruzados de ouro em cada um anno, em signal de tributo e vassalagem».

Desde a solene consagração e desta promessa, jamais os reis de Portugal impuseram a coroa sobre a cabeça, nem mesmo no dia da sua coroação e aclamação. Pode-se confirmar esta decisão nas pinturas ditas oficiais dos monarcas bragantinos, nas quais a coroa real é sempre colocada sobre uma almofada no lado direito do monarca e nunca na sua cabeça.

Eis-nos aqui, em pleno Séc. XXI, no cumprimento desta aliança que desejamos se transforme em compromisso de com a vida sermos sempre Discípulos Missionários da Esperança, num mundo carecido de Maternidade. Que o nosso acolher e procurar cada irmão e irmã, carecidos da Maternidade da Igreja, de colo e de humanização, concretize a certeza proclamada pelo Papa Francisco em Fátima, a 13 de Maio de 2017: «Temos Mãe! Temos Mãe!».

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