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Novo álbum testemunha estreia de “Amália no Japão” e fascínio do público pela cantora

Uma nova edição discográfica de “Amália no Japão”, gravada ao vivo em setembro de 1970, que inclui o fado “É Noite na Mouraria”, chega ao mercado no próximo dia 22.

“É noite na Mouraria” (José Maria Rodrigues/António Mestre) é um fado do repertório de Celeste Rodrigues, irmã de Amália, que a fadista incluiu no alinhamento da sua atuação, em setembro de 1970, no Sakei Hall, em Tóquio, mas nunca gravou em estúdio.

O investigador Frederico Santiago, que tem coordenado a edição completa das gravações de Amália Rodrigues, refere-se à ida da artista ao Japão, como uma “epopeia”.

Amália partiu de Lisboa, no dia 14 de agosto de 1970, rumo a Copenhaga, e da capital dinamarquesa seguiu até Banguecoque, chegou depois Osaka, no Japão, que nesse ano recebia a Exposição Universal e, finalmente, aterrou em Tóquio.

“Por falar em epopeias, é no meio da carreira, em pleno apogeu vocal, que Amália se estreia no Japão”, marcando “o nascer do suave e sofisticado amor do público japonês” pela cantora, escreve Santiago.

 Neste recital, Amália é acompanhada pelos músicos José Fontes Rocha e Carlos Gonçalves, na guitarra portuguesa, Pedro Leal, na viola, e Joel Pina, na viola baixo. Canta em português fado, folclore, marchas de Lisboa, canção, e inclui ainda “grandes sucessos seus em francês e em italiano”, como “Inch Allah” (Salvatre Adamo) e “Canzone Per Te” (Sergio Bardotti/Sergio Enrico), “revelando-se aos japoneses como a mais versátil intérprete da música mediterrânica”.

“A naturalidade e o requinte do cantar de Amália, ampliados pela ritualização do seu estar em palco, logo fascinaram os japoneses”, garante Frederico Santiago.

Amália há muito que era esperada pelo público japonês, desde a década de 1950, um interesse despertado pela sua participação no filme “Les Amants du Tage” (1955), de Henri Verneuil.

Esta atuação “logo fascinou os japoneses” e marcou uma relação artística que se prolongou praticamente até à morte da fadista, em outubro de 1999, com sucessivas digressões ao chamado império do sol nascente.

O último ano em que Amália atuou no Japão, foi em 1993, tendo efetuado oito recitais em seis cidades.

“No auge da sua comovente fragilidade, o Japão reconheceu nela, por uma vez derradeira, a inalcançável ‘Rosa Negra’”, escreve Frederico Santiago, coordenador da edição discográfica.

Para Amália, 1970 “começara com a paixão do público italiano [e] o verão marcaria o nascer do suave e sofisticado amor do público japonês”, sublinha o coordenador da publicação da obra de Amália.

Amália Rodrigues abre o recital com “Fadinho Serrano” (Hermâni Correia/Arlindo de Carvalho), interpretando as primeiras palavras em japonês, “Minasan Konbanwa”.

“Humanista e universal como era, Amália absorvia sempre o espírito das suas plateias e com ele comungava – compare-se a excitação de um espetáculo gravado em Itália, em janeiro deste mesmo ano, com a sedução imanente deste disco ao vivo no Japão”, realça Santiago.

O alinhamento inclui “Lisboa Antiga” (José Galhardo/Raul Portela ), “Coimbra” (J. Galhardo/Raul Ferrão), “Barco Negro” (David Mourão-Ferreira /Caco Velho; Piratini), “La Tramontana” (Daniele Pace/Mario Panzeri), “Meia-Noite e uma Guitarra” (Álvaro Duarte Simões).

O alinhamento tem ainda “L’Important c’est la Rosa” (Louis Amade/Gilbert Bécaud), “Solidão” (D. M.-Ferreira/Ferrer Trindade ), “Vou Dar de Beber à Dor”(Alberto Janes), “Ó Careca” (Joaquim Bernardo Nascimento/Guilherme Pereira/Raul Câmara) e “lá Vai Lisboa” (Norberto de Araújo/Raul Ferrão ), a grande marcha de Lisboa de 1935, criada por Beatriz Costa. Nos ‘encore’, canta a canção popular “O Trevo”.

Amália Rodrigues nasceu a 20 de julho de 1920, em Lisboa, e cedo chamou a atenção, quando, aos 15 anos, participou na Marcha de Alcântara.

Em julho de 1939, um dos títulos da imprensa fadista noticiou que Amália da Piedade Rodrigues acabara de obter a carteira profissional. Para a época, Amália tornava-se oficialmente fadista, e atuava então numa das mais prestigiadas casas de fado lisboetas, o Retiro da Severa.

Começara a trabalhar aos 12 anos como bordadeira e, depois, como operária numa fábrica de produtos agro-alimentares.

Em 1940, estreou-se na revista “Ora vai tu!”, no Teatro Maria Vitória, em Lisboa, um facto inédito até então, pela rapidez com que passou dos estrados das casas de fado para os palcos da revista.

Amália iniciou, então, uma ascensão artística imparável e nunca vista até essa altura, a que não foi alheia a expansão dos novos meios de comunicação, nomeadamente a rádio e o cinema.

A Rádio Peninsular realizava transmissões de noites de fado no Retiro da Severa, que os seus emissores associados retransmitiam, dando a conhecer as vozes do fado de Lisboa ao país inteiro.

A imprensa da época apelidou-a de “princesinha do fado encantado”.

Estreou-se no cinema, ao lado de Alberto Ribeiro, em 1947, no filme “Capas Negras”, de Armando Miranda.

Em 1943, atuou pela primeira vez além-fronteiras, em Madrid, mas foi a sua atuação no Olympia, em Paris, em 1954, que projetou o seu nome para o mundo, tendo protagonizado a mais internacional carreira da música portuguesa.

C/Lusa

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