Há imagem do que acontece com a grande maioria dos molossos europeus, o Rafeiro Alentejano descende dos mastins tibetanos, que se espalharam por todo o continente asiático e que, posteriormente, chegaram a toda a Europa pela mão dos Romanos. Utilizados inicialmente como cães de guerra, os molossos sofreram significativas alterações ao longo dos séculos, influenciadas pelas particularidades de cada região geográfica. Se na Grã-Bretanha foram utilizados sobretudo como animais de tracção, na Península Ibérica foram desenvolvidos como cães de pastoreio, protegendo os rebanhos de potenciais predadores, como o lobo ibérico, e de ladrões.
Em Portugal, nas épocas mais quentes do ano, os rebanhos migravam das planícies alentejanas para as montanhas do norte do país, chegando a ir até ao Douro. Nas épocas mais frias, o percurso era precisamente o inverso. Durante estas migrações, a que se chama transumância, os antepassados do Rafeiro Alentejano acompanhavam sobretudo o gado ovino. Não por acaso, a pelagem desta raça confunde-se com a das ovelhas, permitindo-lhe integrar-se como elemento do rebanho, com quem cria uma relação de grande confiança, deslocando-se no seu seio e surpreendendo os intrusos que se aproximem. Alguns estudiosos acreditam que estes antepassados foram levados pelos pescadores portugueses, durante os descobrimentos, para a ilha da Terra Nova, contribuindo para o desenvolvimento do (cão da) Terra Nova.
A maior de todas as raças portuguesas beneficiou do contributo do Cão da Serra da Estrela, do Mastim Espanhol e de cães locais para o seu apuramento, ocorrido principalmente na região do Alentejo. O rei Dom Carlos, que passava muito tempo no seu palácio real de Vila-Viçosa, tinha uma predilecção pelo Rafeiro Alentejano, utilizando-o como cão de caça, função que, ao contrário do que muitos pensam, também é capaz de desempenhar eficazmente.
As transformações sofridas pelos sectores da agricultura e da pecuária, que puseram fim à transumância, e a diminuição do número de predadores, levou a que o Rafeiro Alentejano visse diminuir a sua funcionalidade, acabando por se fixar nas planícies alentejanas, onde actua como cão de guarda de rebanhos e de propriedades.
O nome “Rafeiro Alentejano” é utilizado desde o século XIX. Contudo, e apesar da antiguidade da linhagem deste guardião de rebanhos, apenas no século XX foi considerado como um cão de raça pura, o que não impediu que o nome pelo qual é conhecido continuasse o mesmo. O reconhecimento da raça pela Federação Cinológica Internacional (FCI), ocorrido em 1967, foi possível graças ao trabalho de António Cabral e de Filipe Romeiras, que identificaram o número de Rafeiros Alentejanos presentes na região e delinearam o estalão da raça.
Contra todas as expectativas, este reconhecimento oficial não proporcionou um aumento do número de exemplares, bem pelo contrário. O êxodo rural aliado à desertificação do interior levou a que, durante os anos 70 e 80, o Rafeiro Alentejano estivesse perto da extinção. Felizmente, o empenho de criadores comprometidos com a salvaguarda da raça permitiu que esta recuperasse a sua popularidade, registando-se, actualmente, 200 a 500 novos exemplares todos os anos.
30 Jan. 2023 Regional
30 Jan. 2023 Regional
30 Jan. 2023 Regional
30 Jan. 2023 Regional
30 Jan. 2023 Regional
30 Jan. 2023 Agenda Cultural
30 Jan. 2023 Regional