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Sexta-feira, Março 29, 2024

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Projeto ‘Life-Relict’ da Universidade de Évora promove conservação da planta ‘relíquia’ Adelfeira!

Na serra de Monchique subsiste uma planta rara, a adelfeira (Rhododendron ponticum), considerada uma ‘relíquia’ por testemunhar o clima subtropical que ali existiu e cujo habitat está a ser regenerado ao abrigo de um projeto ibérico.

A planta, que é tóxica e cuja floração atinge o seu expoente máximo em maio, só existe atualmente, a nível mundial, nas serras de Monchique e do Caramulo. Era bastante abundante naquela serra algarvia há largos milhões de anos, mas a mudança de clima fez desaparecer algumas plantas da floresta laurissilva continental, disse à Lusa o coordenador do projeto ‘Life-Relict’, Carlos Pinto Gomes.

Quando o clima começou a mudar de tropical para mediterrânico, foram pequenos enclaves como a serra de Monchique que “guardaram este habitat”, daí dizer-se que a adelfeira é uma das “relíquias” da vegetação de outrora.

“[São] Relíquias porque têm muito valor e porque são incapazes de se reinstalar sozinhas, é preciso a ajuda da ciência e por isso é que a universidade [de Évora] está envolvida com os parceiros para tentarmos restaurar o habitat e fazer também com que se incremente a área [de implantação da adelfeira]”, disse Carlos Pinto Gomes.

O projeto ‘Life-Relict’, coordenado pela Universidade de Évora, promove a conservação da espécie através da recolha de sementes de adelfeira na serra de Monchique, que são depois multiplicadas num local em Espanha para que possam ser plantadas. A planta tem dificuldade em regenerar-se naturalmente.

“O problema é que as sementes germinam muito bem, mas não crescem. Germina bem, mas tem dificuldade em instalar-se e daí nós termos a necessidade de a plantar e estamos a plantar as sementes recolhidas neste local”, esclareceu o professor da Universidade de Évora.

Segundo o professor, este subtipo “representa um habitat classificado pela União Europeia como estando em estado desfavorável de conservação”, o que deu origem ao projeto internacional que une Portugal e Espanha e que em Portugal congrega os municípios de Monchique (Faro) e de Seia (Guarda) e uma associação de desenvolvimento local da serra da Estrela.

De acordo com Carlos Pinto Gomes, Monchique é o local mais representativo, em termos de expressão, da presença desta planta, que ali se refugia devido ao microclima desta zona do Algarve em que as neblinas de verão conseguem contribuir para incrementar os níveis de humidade no solo e o clima é ameno, nunca se registando demasiado frio.

No entanto, esta é uma planta que não reage muito bem ao fogo e Monchique é uma das zonas do Algarve que tem sido mais afetada pelos incêndios florestais nas últimas décadas.

Daí que um dos objetivos do ‘Life-Relict’ seja também aumentar a resiliência destes bosques autóctones, nomeadamente, através da plantação de carvalhal, acrescentou.

A adelfeira, cuja flor pontilha de lilás os verdes campos da serra de Monchique, tem desde junho do ano passado uma pequena rota pedestre, de cerca de 1,5 quilómetros, que lhe é dedicada e que acompanha o local onde há mais abundância da planta, junto ao ponto mais alto da serra, na Foia.

Segundo Helena Martiniano, vereadora do Turismo na Câmara de Monchique, no futuro aquela zona vai ser integrada num parque que terá o nome de parque eco biológico da Serra de Monchique, uma forma de proteger e dar a conhecer este habitat.

“Porque o Algarve é muito mais que sol e praia e há este outro Algarve que está a ser cada vez mais descoberto pelos turistas. Com este parque que queremos implementar neste território vamos valorizar e reproduzir o habitat que existia cá e fomentava a existência das adelfeiras”, observou.

Para isso, estão a ser desenvolvidas ações para expandir a área de adelfeiras para depois, “em conjunto com outras valências”, ser desenvolvido um parque eco biológico que terá um “espaço físico para acolhimento dos visitantes e dará informação sobre a fauna e a flora da serra de Monchique”, concluiu.

C/Lusa

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