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Sines: CPLS quer usar o aeroporto de Beja como zona ”comercial e industrial”

Concurso para o terminal Vasco da Gama deve avançar quando houver confirmação no mercado de que há operadores interessados em movimentar carga na infra-estrutura. O Presidente da Comunidade Portuária e Logística de Sines, Jorge D’Almeida, diz que aeroporto de Beja tem de assumir o seu papel na cadeia. Porto de Sines quer usar aeroporto de Beja para ser uma zona franca comercial e industrial.

A Comunidade Portuária e Logística de Sines (CPLS) encomendou um estudo para confirmar se há operadores interessados em movimentar carga no aeroporto de Beja, informou o presidente da CPLS ao jornal Público.

Segundo Jorge D’Almeida, “não é uma zona franca como a Madeira”, mas o concurso para o terminal Vasco da Gama deve avançar quando houver confirmação da oportunidade em transformar aquela infraestrutura portuária alentejana numa “zona franca comercial e industrial”. No entanto, o estudo só deverá estar concluído no final de abril.

O objetivo é desenvolver Sines em pelo menos três áreas estratégicas: na energética (com o hidrogénio, à cabeça); no agro-negócio (já há uma parceria assinada com a Câmara de Comércio Luso-Brasileira para avaliar todas as possibilidades de transformar Sines na porta de entrada dos cereais brasileiros para a Europa); e na área do digital (o cabo submarino de fibra ótica, que é a única ligação da Europa ao continente norte-americano, deve ser inaugurado durante a presidência portuguesa do Conselho Europeu; e tendo em conta que o aeroporto de Beja poderá ser uma infraestrutura relevante para dar resposta, com escala, ao crescimento do comércio eletrónico).

Jorge D’Almeida não duvida do grande potencial de crescimento que o Porto de Sines tem, já responsável por mais de metade do movimento portuário nacional.

“A localização estratégica, na proximidade do mediterrâneo, de África e na ligação Extremo Oriente Norte da Europa, e a capacidade de crescimento em várias áreas, dão a Sines uma série de combinações virtuosas que não podem ser desperdiçadas”, diz o responsável.

O presidente está interessado no subaproveitado aeroporto de Beja, e acredita que a infraestrutura pode desempenhar um papel importante na logística, tornando-se um hub de resposta para o crescente comércio eletrónico. “A sabedoria convencional dizia que Sines nunca podia ter um Terminal, e agora tem um terminal XXI a triplicar a capacidade. Também dizem que Beja não tem hipótese. Mas aqui até a sabedoria convencional é capaz de concordar que o comércio eletrónico depende da logística aeroportuária e marítima, e Sines tem, em articulação com Beja, uma situação quase idílica”, argumenta.

Além disso, Jorge D’Almeida diz não ter ficado surpreendido quando o concurso para a concessão do terminal Vasco da Gama ter ficado deserto, e sublinhou que foi antes uma inevitabilidade “face à rigidez dos termos do concurso e ao período de incerteza económica trazido pela pandemia de covid-19”. 

O presidente da CPLS identifica “dois efeitos contraditórios” na pandemia: por um lado, o atraso nos investimentos, com os operadores a avaliarem a evolução económica mundial, “apesar de os operadores de navios porta-contentores estarem a ter um período de retornos financeiros muito positivos”; por outro lado, as fragilidades das cadeias de abastecimento mundiais. “Começou a perceber-se que o sistema tradicional das cadeias just in time tem fragilidades muito grandes. Há uma tendência forte que sai reforçada, que é ter centros de distribuição muito eficientes perto dos portos e eliminar os armazéns intermédios. Os próprios portos são centros logísticos. E Sines vai beneficiar disso, não tenho grandes dúvidas”, indicou Jorge D’Almeida.

O responsável deu como exemplo a Ikea, que escolheu montar a sua logística em toda a Península ibérica: “abastece 40 lojas da Península Ibérica a partir de um centro de distribuição com mais de 200 mil metros quadrados em Tarragona, numa ponta da Península. E ainda assim compensa, faz mais sentido em termos de organização”. De acordo com o presidente, os consumidores continuam a privilegiar o just in time, ou seja, a querer o produto no dia seguinte à encomenda. Mas a pandemia mostrou as fragilidades deste sistema – e o custo que tem. “Começa a falar-se do just in case [com armazenamento]”, conclui.

Neste contexto, Jorge D’Almeida acredita que o terminal Vasco da Gama sairá do papel. O terminal pode estar vocacionado para a carga de transbordo e quererá captar carga que não vai para o terminal XXI, já dominado pela aliança formada pelos gigantes Maersk/MSC. E a carga de transbordo, ou transhipment, é até a mais fácil de captar, segundo Jorge D’Almeida. Porém, para o porto ser viável, precisa de ter também carga de hinterland (área de influência, que em Sines é Portugal e Espanha), que traga receitas.

Desta forma, o concurso para o terminal Vasco da Gama vai avançar “quando os operadores marítimos disserem que é o timing certo”. “Os operadores é que vão decidir quando é altura de se comprometerem com carga, porque não aparecerá ninguém a concurso sem haver esta certeza prévia”, avisa.

O Governo e a Administração do Porto de Sines terão de flexibilizar as exigências em termos de investimentos e de prazos. “Havia rigidez no planeamento, na compra de equipamentos. O concurso obrigava a uma aposta muito grande de dois cais de acostagem logo no arranque. O Terminal XXI arrancou com um cais e duas gruas [em 2004, concessionado à PSA]”, recorda Jorge D’Almeida. O investimento previsto, que chegava aos 642 milhões de euros, deve, por isso, ser faseado.

De acordo com o presidente da CPLS, Vasco da Gama vai ser importante para dar resposta ao crescimento de carga que se adivinha, e que o Terminal XXI, para já, “a ideia é trazer para a zona logística de Sines atividades que sejam geradoras de carga e onde haja valor acrescentado. Pode ser de distribuição, pode ser de transformação. O estudo encomendado pela CPLS vai ajudar-nos a encontrar respostas”.

Além disso, a CPLS está também a averiguar se será mais benéfico Sines ser o grande armazém de distribuição do agro-negócio do Brasil para a Europa, ou se os cereais deverão chegar em grão ao Alentejo, onde serão transformados e refinados, antes de distribuídos. “Estamos a avaliar a utilização do espaço de granéis que estava dedicado ao carvão e que está descontinuado, e há já um grupo de trabalho a estudar isso”, explica. 

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