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Quinta-feira, Abril 18, 2024

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Taça “velha e com defeito” era afinal uma relíquia romana, diretora do Paço Ducal “nem queria acreditar que era a original” (c/som)

Séculos de desgaste dentro de uma caixa de chumbo e em ambiente marítimo valeram a uma taça metálica o título de “tigela velha com defeitos”, características que, no fundo, não fogem à realidade mas que de certo modo encobrem o verdadeiro valor da peça que estava guardada nas reservas de Arqueologia da Fundação da Casa de Bragança, em Vila Viçosa.

Longe de imaginar que a peça pudesse vir a ser uma preciosa taça de prata do tempo Romano, Maria de Jesus Monge, diretora do Museu-Biblioteca, conta que foi o requisito de alguns documentos do “grande fundo arquivístico” da instituição que permitiu aproximar as pontas soltas deste enigma.

No artigo publicado posteriormente pela investigadora do Instituto de História da Arte da Universidade de Lisboa, Maria Teresa Caetano, enviado para o Palácio de Vila Viçosa por ocasião da sua contribuição no estudo, vinha o um desenho feito à época, 1850, de uma taça ornamentada representada no seu esplendor que despertou a atenção da diretora do Museu-Biblioteca, “já vimos isto”, pensou, e foi nas “reservas” de arqueologia que encontrou uma peça com aquelas características.

“Num primeiro momento não queria acreditar que tínhamos cá uma peça perdida há 150 anos”, confessou Maria de Jesus Monge, pensando na altura que a peça que tinha na mão era uma cópia, mas não, o Museu Nacional de Arqueologia (posteriormente contactado) confirmou que a taça é “mesmo a original”.

Entre outras coisas, o artigo dizia que a taça era de prata, e “aquilo não parece nada prata” conta a diretora, fruto da exposição e corrosão durante séculos, pois foi uma peça revelada na sequência do terramoto de 1755 em “contexto marítimo, em Troia, onde estava dentro de um cofre de chumbo, o que terá ajudado as alterações químicas”.

Segundo Maria de Jesus Monge, a peça encontrada por em 1814 “terá sido adquirida pelo Governador Civil da época até chegar às mãos do Duque de Palmela”, que aceitara financiar juntamente com o rei D. Fernando II, um dos principais impulsionadores desta ciência em Portugal, a Sociedade Archeologica Lusitana (em 1850).

Com a morte do Duque “a taça desaparece”, referiu a diretora, e o seu aparecimento na coleção da Fundação da Casa de Bragança confirma uma das linhas de investigação, “o rei D. Fernando, ou por compra, ou por oferta, fica com a peça”, mas passado alguns anos, apesar de continuar a integrar o conjunto de objetos preciosos do rei, “já ninguém sabe muito bem o que ela é”.

No inventário por morte do rei D. Fernando II, a sua designação já nada relaciona a peça com a descoberta de Troia, era caraterizada como “uma tigela velha com defeito”, conta Maria de Jesus Monge, que acrescenta logo de seguida que “nada faz supor que é uma taça de prata romana do Século II ou III d.c”.

Com composição em prata já confirmada pelo Museu Nacional de Arqueologia, a peça continua a ser alvo de análises, pois apresenta “alguns elementos de extrema fragilidade”, o que obriga a uma intervenção de forma a poder regressar a Vila Viçosa, onde será exposta no Museu de Arqueologia patente no Castelo, garantiu Maria de Jesus Monge ainda sem oferecer qualquer previsão para o retorno.

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