Humanos e máquinas unirão forças para combater uma das maiores ameaças atuais à democracia: notícias falsas, discurso de ódio e desinformação enfrentarão um novo obstáculo no consórcio europeu ‘HYBRIDS’: uma iniciativa internacional financiada com mais de 2,9 milhões de euros pelo programa de investigação e inovação do Horizonte Europa, Marie Sklodowska-Curie Redes Doutorais, e pelos fundos de financiamento do Horizonte Europa da UKRI. A desinformação tornou-se uma das maiores ameaças sociais para a estabilidade das democracias modernasA disseminação de rumores e notícias falsas, discursos de ódio contra minorias vulneráveis e assédio através dos meios de comunicação social tornaram-se numa das principais ameaças para as democracias modernas.
Os parlamentos e governos de diferentes nações estão a tomar consciência da necessidade de uma estratégia global contra a desinformação, assumindo que a estabilidade das sociedades democráticas depende também do acesso dos cidadãos a informação verificável, ficando, assim, os mesmos livres de construir as suas próprias opiniões com base em dados objetivos cuja veracidade possa ser comprovada.
Embora tenham havido avanços significativos na detecção automática de desinformação nos últimos anos, continua a ser um campo pouco estudado, uma vez que se trata de uma tarefa extremamente complexa que requer um conhecimento semântico profundo e diferentes mecanismos de inferência e raciocínio baseados na linguagem natural.
Neste contexto, a União Europeia (UE) e UKRI acabam de dar o seu financiamento a um novo projeto de investigação transnacional cujo objetivo científico será conceber e desenvolver novas ferramentas automáticas para combater a ameaça da desinformação, com base no Processamento da Linguagem Natural (PLN) e na Inteligência Artificial (IA).
Ao longo da iniciativa HYBRIDS (Inteligência Híbrida para monitorizar, promover e analisar as transformações nas boas práticas democráticas) serão desenvolvidas diferentes técnicas de Aprendizagem Profunda (Deep Learning) com base numa análise exaustiva do discurso público sobre questões globais cruciais, tais como saúde, crise climática, euroceticismo ou imigração, que terá em conta tanto os meios de comunicação tradicionais como os conteúdos publicados através de redes sociais.
Desde a sua concepção inicial, a HYBRIDS pressupõe a necessidade de uma equipa de investigação multidisciplinar, capaz de transferir os conhecimentos adquiridos nas ciências humanas e sociais para as ferramentas tecnológicas dos algoritmos de Processamento de Linguagem Natural (PLN) e de Aprendizagem Profunda. Pablo Gamallo, especialista em linguística computacional que encabeça o projeto da instituição líder em Espanha (CiTIUS – Centro de Investigação de Tecnologias Inteligentes), afirma que “o objetivo final é gerar novos sistemas de interpretação neuro-simbólica, algo que conhecemos como “inteligência híbrida”. O investigador sintetiza a essência do projeto: “a ideia de inteligência híbrida consiste em combinar as elevadas capacidades computacionais dos recentes algoritmos neurais com representações simbólicas que modelam o conhecimento humano, abrindo assim o caminho para superar as deficiências dos atuais métodos de inteligência artificial”, explica.
Contudo, apesar destas vantagens, muito pouca investigação tem sido publicada até à data no campo dos sistemas híbridos; principalmente devido à dificuldade em encontrar pessoal altamente qualificado nestas disciplinas, tradicionalmente tão distantes como é o caso da engenharia informática, as ciências sociais ou a linguística. O lançamento do HYBRIDS (uma rede de doutoramento Marie Skłodowska-Curie financiada pelo programa Horizonte Europa e a UKRI) também contribuirá para a formação desses profissionais em metodologias híbridas, que fornecerão os seus conhecimentos especializados neste e noutros estudos sociais com um elevado impacto potencial na sustentabilidade das boas práticas democráticas na Europa.
HYBRIDS é o resultado de um consórcio internacional liderado a partir de Santiago de Compostela (Espanha) pelo Centro de Investigação de Tecnologias Inteligentes (CiTIUS), e envolve um total de 14 membros (8 beneficiários – 6 parceiros) de 7 países europeus: França, Alemanha, Itália, Portugal, Espanha, Holanda e Reino Unido. Entre as instituições estão 6 universidades (Queen Mary University of London, Radboud Universiteit, Universidade da Corunha, Universidade de Santiago de Compostela, Universidade Caen Normandie e Universidade de Évora); 3 centros de I&D (Consejo Superior de Investigaciones Científicas, Fondazione Bruno Kessler, Leibniz-Institut für Sozialwissenschaften); 2 fundações sem fins lucrativos (Fondazione Openpolis ETS, Fundación Empresa Universidad Gallega) e 3 empresas privadas (Factoria Software e Multimedia, Industrieanlagen Betriebsgesellschaft MBH e Newtral Media Audiovisual). Após o início oficial do projeto, que começou a 1 de Janeiro de 2023, membros das diferentes instituições reuniram-se hoje pela primeira vez em Santiago de Compostela (Espanha).
