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Vinhos do Alentejo: uma seleção para beber história

Há muitos séculos atrás, havia em Évora, uma área com pedras grandes, de onde resultou o vinho conhecidi como Pedra Manca, ou Pêra-Manca, que Pedro Álvares Cabral trouxe em seus navios e, portanto, o vinho oferecido aos nativos na chegada ao Brasil, segundo a Forbes.

O Pêra-Manca da Adega Cartuxa, da Fundação Eugénio Almeida (FEA), no entanto, não é o mesmo da época de Pedro Álvares Cabral. Não vem do mesmo terreno. Só começou a ser produzido em 1990, quando a Fundação Eugénio Almeida recebeu a marca como doação da Casa Soares. Tampouco tem aromas ou paladar parecidos. “Sabemos que os vinhos eram mais doces, tinham menos cor, misturavam uvas tintas e brancas”, diz Pedro Baptista, enólogo da Adega Cartuxa responsável pela produção do Pêra-Manca.  “A associação, no entanto, não é errada. Era um vinho da mesma região, com solo e exposição solar parecidos.”

Quem visita Évora e a Adega Cartuxa, contudo, bebe uma outra história: a história da muralha que cerca a cidade, do templo romano que sobrevive no seu interior, da Fundação Eugénio Almeida, da família que a constituiu e de sua relação com os cartuxos, uma ordem francesa de monges reclusos.

O convento da Cartuxa, em Évora, é a casa dos monges Cartuxos, que viviam enclausurados e em silêncio absoluto, em meio a uma extensa área agrícola para produzirem alimentos. 
Segundo avançado pelo Band, após a extinção das ordens religiosas, em 1834, os Cartuxos foram expulsos de Portugal e os seus bens foram confiscados. Assim, o Governo transformou o convento numa escola agrícola.

Quatro décadas depois, o lugar foi vendido para um magnata da indústria do tabaco. José Maria Eugênio de Almeida tinha um objetivo, instalar uma sede agropecuária de grandes dimensões no sul de Portugal. E é assim que começa a história da Adega da Cartuxa.

Produtora de tantos vinhos, entre eles, o ícone Pêra-Manca, a adega é uma das empresas pilares de um projeto que foi pensado pelos herdeiros do magnata: criar uma fundação.

A Fundação Eugênio de Almeida foi instituída em 1963 e foi fundada com o propósito muito claro, dar sentido a tanto dinheiro ajudando os mais pobres e apoiar Évora no seu desenvolvimento.

“O desenvolvimento económico, educativo, cultural, espiritual da região. Essa é a missão da Fundação, que se mantém e se cumpre e como é que se cumpre? Com as receitas feitas pela Fundação na sua produção agroindustrial, através da comercialização de vinhos, carnes, azeite, etc.”, explica Rui Carreteiro.

Com a restauração de muitos prédios, Évora, que foi fundada pelos romanos e cercada por muralhas, foi recuperando parte de sua história e da sua cultura. 

No século XVII, uma construção da cidade abrigava o Tribunal da Inquisição, onde as pessoas eram julgadas e também decapitadas. A Fundação Eugênio de Almeida, comprou o local, que foi transformado em escola, onde atualmente funciona o Centro de Arte e Cultura de Évora.

“A Fundação, há cerca de 15 anos, transformou a história mais longínqua do lugar, que tem uma simbologia carregada de tensão e de carga negativa, transformou naquilo que o seu instituidor queria que fosse: um lugar luminoso, de conhecimento, de cultura, de diálogo e de paz”, refere Maria do Céu Ramos, administradora da Fundação.

José Eugênio Maria de Almeida construiu um império e os seus descendentes agarraram no seu trabalho e deram-lhe continuidade.

O mosteiro foi reconstruído em 1948, pelo bisneto de José Maria, e devolvido aos monges da Ordem dos Cartuxos para eles voltarem a viver como sempre desejaram.

A ordem fundada por Sao Bruno, é a mais rígida que se viu até hoje na igreja. Vida de penitências, orações, silêncio e solidão. Cada monge tinha uma chave, que abria todas as portas do mosteiro, ou de qualquer mosteiro Cartuxa do mundo.

Estes monges viviam em celas. Eles escreveram livros incríveis, mas assinavam apenas como “um Cartuxo”. Nem mesmo no fim da vida são revelados os nomes de quem descansa para sempre no local.

Os últimos quatro monges ocupantes do mosteiro, já octogenários, despediram-se para viver na Espanha. E agora, o local vai ser ocupado por religiosas de uma congregação feminina. As monjas vão desembarcar num local ímpar. Num universo de espiritualidade, que os monges sempre chamaram de “escada para o céu”.

E é nesse local sagrado, silencioso e cercado de mistérios, que descansam milhares de preciosas garrafas do vinho Pêra-Manca. Enquanto aguardam o momento de chegar aos copos e inspirar brindes de apreciadores em todo o mundo.

Fonte: Band

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