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Sexta-feira, Abril 19, 2024

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Apresentado livro em Évora sobre grupo anarquista cujas “bombas foram as penas e as peças de teatro”, diz autor (c/som e fotos)

Carlos Moura-Carvalho apresentou no passado sábado, no Teatro Garcia Resende, em Évora, a obra «Um Homem Livre».

O livro retrata a “vida muito rica” do seu avô, Severino de Carvalho, e a sua “intervenção política através da anarquia” nos finais do século XIX e até à primeira Grande Guerra, em 1911.

Severino de Carvalho foi tradutor das obras e Émile Zola, “mudou o programa de ensino de uma escola oficina de Lisboa que era na altura da Maçonaria, implementado grandes conceitos da escola nova” e “resolveu criar uma cooperativa com outras pessoas da altura, que deu origem ao teatro livre”. Esta cooperativa visava “mudar a sociedade”, mas contrariamente ao anarquista revolucionário, neste caso “as bombas foram as canetas, as penas e as peças de teatro, e a mensagem para chegar ao povo”.

“Era um movimento cultural anarquista muito consistente, não da bomba”

 

A população na altura apresentava “grandes taxas de analfabetismo” e era “muito rural”, tendo este movimento possibilitado que pessoas que nunca tinham visto uma peça de teatro “pudessem ir a Lisboa ao teatro, até com récitas gratuitas” para assistir a peças “com temas complicados, que mexiam com as pessoas, como o adultério, o aborto”.

O autarca declara que achou “muito inspirador dar o testemunho deste movimento cultural anarquista que pode em muito contribuir para a melhoria da nossa inspiração atual”.

José Russo, diretor do CENDREV (Centro Dramático de Évora), em declarações à RC, afirma que “estes exemplos que vão sendo dados pela própria história dos povos são importantes”.

O dirigente destaca a importância destes acontecimentos focados em “questões que são centrais para o desenvolvimento das pessoas e das comunidades”, afirmando que sem acesso à cultura, “há aqui alguma coisa que se vai perdendo, com alguma irreversibilidade”.

“Se não há fruição cultural […], não conseguimos ter a informação necessária para avaliar e decidir”

 

É necessário conhecer através da leitura, de filmes e peças, de trocas opiniões, por exemplo, para que haja uma “fruição cultural” e a criação de um espírito crítico, considerando que só circula a informação que “que algumas pessoas querem que circule”.

Surge assim a necessidade de “irmos contribuindo para criar outros exemplos” como o apresentado na obra «Um Homem Livre».

Mais firma este aspeto, face a toda a informação de que dispomos atualmente, deixando ainda assim “que as coisas aconteçam como acontecem”, nomeadamente o Orçamento de Estado que apresenta baixos valores para o setor da cultura – “é impossível enquanto a coisa continuar assim, continuarmos a batalhar, a lutar, a resistir”, conclui.

 

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