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Sexta-feira, Abril 19, 2024

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O Paço Ducal de Vila Viçosa tem um espólio ainda com imensas “pistas para explorar” (c/som e fotos)

Recentemente, todos se interrogaram como é que uma peça milenar e em prata, do Império Romano, estava “escondida” no Paço Ducal de Vila Viçosa com a classificação de “tigela velha com defeitos”. Uma das explicações prender-se-á com o processo de Arrolamento dos Paços Reais, decorrido a partir de 1910, data da implementação da 1ª República e exílio da Família Real, onde foram catalogados e divididos todos os bens do Estado e Particulares. Processo esse que foi o tema da palestra conduzida pela Arquivista da Fundação da Casa de Bragança, Marta Páscoa, no passado dia 9 de junho, na Biblioteca-Museu do Paço Ducal de Vila Viçosa, intitulada “A documentação da Família Real: um percurso desconhecido”.

Com a Família Real no exílio e a necessidade de esvaziar sobretudo o Palácio das Necessidades, que viria a albergar o Ministério dos Negócios Estrangeiros, a maioria dos bens particulares foi encaminhada para Vila Viçosa, o maior bem imobiliário particular de D. Manuel e D. Amélia, então refugiados em Inglaterra.

Porém, tudo “aquilo que na altura não era considerado muito importante, hoje é”, sendo que “na altura, para a Torre do Tombo, foram por exemplo as cartas trocadas com personalidades importantes da época” e “nós ficámos com os pedidos de esmolas, com algumas cartas pessoais”, ou “faturas” e “documentos internos trocados entre funcionários”, explica a investigadora e arquivista da Fundação.

Coisas que, apesar de tudo, são hoje documentos fundamentais para “uma série de investigadores, por todo o país e não só, eventualmente também no estrangeiro, que precisam desta informação”, afirma Marta Páscoa. Sobretudo para investigadores “que trabalham noutros museus”, pois “têm uma parte do espólio, mas não têm a informação contida nos documentos”.

Por isso mesmo, um dos objetivos deste tipo de conferências, passa precisamente por “dar a conhecer aos possíveis investigadores e interessados que aqui [no Paço Ducal de Vila Viçosa] há pistas para explorar”, refere a investigadora.

Pistas que passam, por exemplo, pela Assistência Social do tempo de D. Fernando II, com “uma coleção imensa de pedidos de esmolas, que nos mostram que carências tinham as pessoas” e, portanto, “dá para fazer um estudo sobre a Assistência Social no séc. XIX”, explica Marta Páscoa.

Outro exemplo disso, passa pelo estudo das fábricas de cerâmica, com imensa informação “sobre os vidros, as faianças, as louças compradas” pela Família Real, assim como “os copos”. Também para “a história da alimentação, temos um mundo de informação”, pois “só em menus, temos neste momento listados e contabilizados cerca de 670 menus que queremos publicar num catálogo”, avança a arquivista. Material que se complementa com “as compras diárias de alimentação”, o que “permite fazer diversos estudos, mais ou menos exaustivos, sobre a alimentação na Casa Real Portuguesa”.

A diversidade dos materiais expostos na sala de apresentação desta palestra, passam desde os cadernos de pautas para assistir à ópera, a uma peça autografada por Richard Strauss (1864-1949), ou os inventários de caça do Rei D. Carlos, ou até mesmo os boletins meteorológicos da época, passando ainda por um caderno de “Homenagem de Pesar”, pela morte de D. Carlos, feito pelas famílias portuguesas na Bahia (Brasil). Tudo objetos que servem sobretudo “para mostrar a nossa diversidade”, no que diz respeito ao espólio do Museu-Biblioteca do Paço Ducal de Vila Viçosa.

Ao mesmo tempo que a triagem feita à época, pelo Arrolamento dos Paços Reais, não detetou todos os bens considerados de “valor artístico”, tendo deixado passar várias peças que ficaram em nome particular e hoje pertencem à Fundação da Casa de Bragança, que poderá “dar mais destaque à documentação do final séc. XIX que a própria Torre do Tombo, que terá ficado com as coisas mais importantes”, afirma a arquivista Marta Páscoa.

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