As telecomunicações nos concelhos de Vila Viçosa e Évora continuam a ser um obstáculo na luta contra a desertificação do território.
O jornal Público, de modo a compreendermos como funcionam as telecomunicações destes dois concelhos alentejanos, deu três exemplos. O primeiro, do Luís, que não consegue ouvir o que a mãe lhe diz ao telefone. O segundo, do Rodolfo, que não pode assistir a conteúdos desportivos em alta definição se a filha estiver a utilizar um serviço de streaming e, por último, o da Mónica, que não é capaz de fazer ou receber chamadas em casa.
Estes três casos exemplificados pelo Público, mostram os problemas encontrados por dois engenheiros da Autoridade Nacional de Comunicações (Anacom), que realizaram estudos nos municípios de Vila Viçosa e Évora para avaliar a qualidade do serviço de telecomunicações móveis.
Também, segundo a Tribuna Alentejo, estes estudos foram feitos na ótica do utilizador e simularam a qualidade do serviço dos residentes e dos trabalhadores das várias freguesias destes dois municípios, com recurso a “telemóveis de 200 ou 300 euros” ligados a outros semelhantes na sede da Anacom e “em igualdade de circunstâncias” para a Meo, a Nos e a Vodafone, os três operadores de comunicações que tiveram os seus desempenhos analisados.
Os testes, que foram realizados em dezembro, em Vila Viçosa, e nos meses de agosto e setembro, em Évora, e foram em tudo semelhantes a outros que têm sido feitos pelo país, permitiram concluir que “o fosso digital existe e é uma ameaça à coesão territorial”, resume Fábio Silva, coordenador da equipa da Anacom que faz a monitorização do espectro.
Em Vila Viçosa, que conta com menos de 8.000 habitantes e que perdeu, em 10 anos, 11% de população, os dois engenheiros da Anacom, que andaram mais de 250 quilómetros de carro e realizaram perto de 56.000 testes de medição de sinal de rede, 693 chamadas de voz e 676 testes de velocidade de ligação ao serviço de Internet, acabaram por vivenciar o que a população ali encontra todos os dias: uma cobertura de rede má, ou até mesmo inexistente (33,9% da amostra, com os piores resultados a serem os da Nos).
O Público avança ainda com mais números, dizendo que, em cada 25 chamadas, uma não se consegue efetuar (destacando-se aqui a Meo) e, em alguns lugares da freguesia de Ciladas, a que conta com os piores serviços, os telemóveis acabam por ligar-se às redes de Espanha através do roaming.
“Quando estamos em Portugal e os telefones escolhem ligar-se a Espanha é porque claramente o sinal é insuficiente , e se o sinal é insuficiente é porque a densidade das antenas é insuficiente”, salienta Fábio Silva, enquanto explica que o caso aconteceu na rede da Meo.
Em Évora, em 26,3% da amostra houve uma qualidade do sinal de rede inexistente, má ou muito má. Entre os operadores estudados, a “cobertura mais deficiente” foi apresentada pela Meo, enquanto a Vodafone e a Nos obtiveram melhores resultados. Ainda assim, a situação do município eborense acabou por ser semelhante à de Vila Viçosa, no sentido em que não foi possível efetuar uma em cada 25 chamadas, o que origina resultados “muito pouco satisfatórios”.
Fábio Silva deixa ainda claro que a metodologia utilizada previa como critério de sucesso a duração de um minuto por chamada e não o desenvolvimento de um diálogo percetível. Caso se tivesse utilizado este último fator, os indicadores poderiam ter sido ainda piores.
Em alguns locais, ficou também comprovada a existência de uma má velocidade de Internet móvel. Nos dois concelhos alentejanos, foram obtidos níveis de acesso ao serviço superiores a 80% durante a realização das sessões de dados. Nesta área, a Vodafone foi a melhor e a Meo foi a pior. A ferramenta Netmede, disponível para todos os utilizadores de Internet no site da Anacom, detetou “grandes variações” nos desempenhos, provocadas pela qualidade de sinal dos três operadores e pela tecnologia de acesso (3G/4G/5G).
Os resultados dos testes feitos em Évora demonstraram a utilização de tecnologia 3G, menos estável e com menores débitos, em 37,5% na rede da Nos, ao passo que os outros dois operadores usam sobretudo o 4G, apesar de a Meo ainda ter 2G em 8,7% da amostra.
Quanto à realização de downloads, foram registadas, em Vila Viçosa, velocidades de 41,1 megabits por segundo (Mbps) na Meo, de 28,8 Mbps na Vodafone e de 26,4 Mbps na Nos. No envio de dados (isto é, uploads), as médias ficaram em 13 Mbps na Vodafone, 7,8 Mbps na Meo e 6,5 Mbps na Nos.
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Foto: Pplware
Fonte: Público, Tribuna Alentejo