No dia 14 de janeiro de 2022, pelas 18h, na Igreja de Nossa Senhora da Assunção, antiga Sé de Elvas, o Arcebispo de Évora presidiu à Eucaristia e Te Deum por ocasião da vitória das Linhas de Elvas.
Após reflexão feita a partir da Palavra de Deus proclamada na celebração, D. Francisco José Senra Coelho contextualizou a celebração eucarística e o canto do Te Deum nos grandes valores da paz propostos pelo Santo Padre, o Papa Francisco, no passado 55º dia mundial da paz 2022, sob o tema “Diálogo entre gerações, educação e trabalho: instrumentos para construir uma paz duradoira”, vivido no primeiro dia do novo ano 2022. Na referida mensagem o Papa Francisco propôs três caminhos para a construção de uma paz duradoira: “primeiro, o diálogo entre as gerações, como base para a realização de projetos compartilhados. Depois, a educação, como fator de liberdade, responsabilidade e desenvolvimento. E, por fim, o trabalho, para uma plena realização da dignidade humana. São três elementos imprescindíveis para tornar ‘possível a criação de um pacto social’, sem o qual se revela inconsistente todo o projeto de paz”.
O Prelado lembrou também o comunicado do Conselho Permanente da Conferência Episcopal Portuguesa (11 de janeiro de 2022) recordando que: “tendo em conta o processo eleitoral em curso, o Conselho apela à participação democrática dos cidadãos no próximo ato eleitoral e pede aos partidos políticos que apresentem com clareza as suas propostas quanto aos problemas da sociedade, sobretudo no que diz respeito à vida humana e sua salvaguarda integral, às situações de pobreza e coesão económica, às questões da justiça, à desertificação do inte4rior do país, à situação dos emigrantes e aos problemas ambientais”. O Arcebispo de Évora solicitou uma atenção cuidada e urgente ao grave problema da escassez de técnicos de saúde que afeta sobretudo o interior do país e lamentou a incompetente coordenação dos recursos humanos, que dirigiram a emigração de muitos técnicos de saúde sem lugar à mesa nacional, pondo a render as suas qualidades em vários países europeus e extraeuropeus, permanecendo agora as nossas populações à míngua deste imprescindível apoio para a qualidade da saúde e da vida, solidarizando-se com situações difíceis e conhecidas no Hospital de Santa Luzia de Elvas e do Espírito Santo de Évora, sem esquecer o mesmo tipo de situações em outros centros de saúde. Lamentou que o povo português tenha feito um louvável esforço de contribuir para a formação de excelentes técnicos e que agora se veja privado dos seus bons serviços.
D. Francisco Senra Coelho apelou também para um compromisso concreto e assumido de apoio à fixação das novas gerações no vasto território do interior alentejano. Só uma política positivamente discriminatória pode reduzir os pesados custos da interioridade, concluindo com um forte apelo a que as entidades competentes olhem com objetividade, compromisso e concretização para a realidade das IPSS que, no terreno, cuidam dos idosos e apoiam as poucas famílias jovens no cuidado dos seus filhos, através de berçários, creches e jardins-de-infância. Lembrou a dificuldade de recrutamento técnico especializado e no âmbito dos serviços gerais para estas instituições, que se debatem com graves carências de apoio financeiro e de recrutamento funcionais. Apelou para esta urgente situação lembrando várias instituições em aflitivas situações de rutura.
Lembrou o Arcebispo que todos estes temas têm passado à margem dos debates partidários que permanecem no opaco de questões genéricas sem percorrer os caminhos do país real. “Para quando o incremento de mais centros de cuidados permanentes para idosos? Para quando a implementação de centros de cuidados paliativos que deem continuidade à vida, sem nos encurralarmos no fatídico recurso da eutanásia? Para quando uma atenção efetiva aos serviços de cuidado de saúde no contexto da pandemia e pós-pandemia? Para quando a ampliação do número de psicólogos nos serviços de saúde? Para quando uma rede de creches privadas e públicas com caráter gratuito que incentivem a natalidade, neste interior em desertificação crescente? Para quando consequências efetivas da legislação a favor dos imigrantes, que graças ao regadio das águas do Alqueva vêm trabalhar para as vastas explorações agrícolas e hortícolas do Alentejo e que, em muitos casos, sobrevivem em autênticas colmeias de uma nova escravatura, situação esta já várias vezes denunciada pelos Bispos de Beja e Évora e pela Comissão Justiça e Paz de Évora? Eis um conjunto de interrogações sobre a qualidade da nossa liberdade e da integridade do território nacional, afinal, a grande questão da vitória das Linhas de Elvas: a nossa liberdade como povo e como nação”.
O Prelado concluiu que celebrar a vitória da batalha das Linhas de Elvas é apostar na paz, sempre fruto da justiça e do desenvolvimento integral e global.