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Sousel: IV Encontro de Cantadores de Saias em Casa Branca, numa altura em que se discute a candidatura a Património da Unesco. “Não sei se uma candidatura destas será bem-sucedida”, diz membro da Associação de Folcloristas do Alto Alentejo (c/som e fotos)

A Casa do Povo de Casa Branca, no concelho de Sousel, recebeu este domingo, dia 30 de janeiro, pelas 21 horas, o IV Encontro de Cantadores de Saias.

Neste evento participaram o Rancho Folclórico “As Mondadeiras de Casa Branca”, o Rancho Folclórico de Arronches, o Rancho Folclórico “Cravos e Rosas” de Orada, o Rancho Folclórico da Casa do Povo de Ponte de Sor, o grupo Folclórico e Cultural da Boavista de Portalegre e o grupo de Cantares Despertar Alentejano de Campo Maior.

A Rádio Campanário esteve presente no evento que foi organizado pelo Rancho Folclórico “As Mondadeiras de Casa Branca”.

Em declaração a esta Estação Emissora, Josefina Falcato salientou o seu papel dentro do grupo dizendo que para alem de ser a ensaiadora, vai fazendo de tudo um pouco visto já estar no grupo desde o início, “tenho acompanhado muita gente (…) vou fazendo recolhas, ensinando a dançar, a cantar (…) e tento aprender com as pessoas mais velhas e que sabem mais do que eu para transmitir esse conhecimento aos mais novos e aos mais velhos porque nós também aprendemos com os mais novos”.

Florêncio Cacete, do Clube do Conselho Técnico Regional da Federação de Folclore Português, destacou que “o cantar das saias, fazendo parte da memória coletiva de um povo passa obrigatoriamente a fazer parte das nossas tradições, o folclore português como tal, tem a obrigação, e todas as entidades que se designam por folclóricas, de preservar, divulgar e estudar aquilo que são as nossas raízes (…)”.

Quando questionado sobre quais as regiões onde esta tradição está mais enraizada, refere que “em todo o país há grupos que fazem um excelente trabalho ao nível da preservação do que são as tradições e identidade (…) porque é de facto esse o nosso trabalho, muito aliado à recolha, investigação, e hoje os grupos fazem um trabalho de nível académico que muitas entidades não fazem nem têm condições para o fazer (…) o nosso papel é esse e tem sido o que temos transmitido aos grupos que pertencem à federação, porque não é fácil chegar à federação, que obriga a um conjunto de normas, regras que para muitos são ousadas e não estão para as cumprir”.

Florêncio Cacete diz ainda que “de Portalegre a Pias, existe uma tradição muito forte que tem conseguido manter (…)”.

Sobre os apoios camarários, declara que “naturalmente que as autarquias também sentem esta crise e em termos de apoio reduziram drasticamente (…) hoje lutamos com muitas dificuldades neste quadro de crise que se está a viver no país que também nos toca a nós”.

Manuel Braga, membro do Grupo de Folclore da Boavista e do Conselho Técnico da Região do Alentejo e da Associação de Folcloristas do Alto Alentejo alertou que “a cultura popular e tradicional se não forem os grupos de folclore a incentivar os mais jovens a aprender a bailar, a cantar e também a trajar como era os antepassados, isto vai-se perdendo, nomeadamente as saias, nós temos pena”.

Lamenta que “nenhuma entidade oficial do nosso distrito se tenha debruçado sobre esta temática das sias, aprofundando na recolha, no tratamento, na divulgação, para ficar para a história do nosso povo, aquilo que eram as tradições, os divertimentos das nossas gentes”.

Instado sobre a candidatura das saias a Património Imaterial da Humanidade, Manuel Braga diz que a associação tem conhecimento dessa intenção, tendo já estado presente num encontro onde esse tema foi debatido, em alandroal. No entanto considera “que é uma matéria em que temos de pensar muito bem se caminhamos ou não para essa identificação (…) eu tenho algumas dúvidas (…) relativamente às saias, se não fossem os grupos de folclore, hoje já ninguém cantava nem se lembrava das saias (…)”.

“O cantar das saias de forma espontânea só acontece em Campo Maior, o resto, quando se cantam saias, são encontros desta natureza ou são os grupos de folclore que levam as saias”, acrescentando, “há uma diferença muito grande entre a prática do cante alentejano e o de cantar as saias, nós temos que olhar para isso, não sei se uma candidatura destas será bem sucedida (…) não há que comparar aquilo que é a vivência das nossas terras do Alto Alentejo com o cantar das saias com o que é o cantar do Baixo Alentejo, ainda hoje no Baixo Alentejo se encontram homens na taberna a cantar (…) se avançar, muito trabalho terá que ser feito em todas as aldeias onde normalmente se cantavam as saias, o que eu não quero confundir é as realidades que se vivem ainda hoje entre o Baixo Alentejo com o seu próprio cante e o Alto Alentejo com as saias”.

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