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Udómetro da Universidade de Évora regista maior intensidade de precipitação desde 2007

Foto: Universidade de Évora

No final do dia da passada terça-feira, dia 21 de julho, a cidade de Évora foi atingida por uma violenta tempestade que provocou vários estragos por toda a cidade.

Em nota, a Universidade de Évora (UÉ), informa que “o udómetro do Instituto de Ciências da Terra da Universidade de Évora, no Colégio Luís António Verney, registou nesse dia a maior intensidade de precipitação no período de uma hora, desde que foi instalado em 2007”.

“Às 20:00h, hora local, e no espaço de apenas quarenta e cinco minutos, Évora acumulou uma precipitação de 38.805mm. Até dia 21 de julho os valores mais elevados de precipitação horária, registados nesta estação eram de 28,059 mm (em 4 de Novembro de 2012) e 21,691 mm (em 22 de Abril de 2014). Note-se ainda que, segundo a equipa de técnicos e investigadores do ICT, nomeadamente Rui Salgado, Miguel Potes, Flávio Couto, Gonçalo Rodrigues, Samuel Bárias e Ana Lourido, não há nenhum registo, nesta estação, de precipitação superior a 10 mm numa hora nos meses de Julho e Agosto.

Mais especificamente, entre as 19:26h e as 19:55h (num período de meia-hora) a precipitação acumulada foi de 37,6 mm, ou seja a intensidade de precipitação foi de 75,2 mm/h o que permite classificar este evento como de precipitação violenta (> 50 mm/hora) o nível mais elevado da classificação da intensidade da precipitação.

De referir que, segundo dados do IPMA, em Julho, a precipitação média mensal em Évora é de 8.6 mm (normal 1971-2000). Ou seja, a precipitação acumulada no dia 21, entre as 19:00h e as 20:00h foi quase 5 vezes mais elevada do que a normal para todo o mês de julho.

O evento de precipitação foi muito localizado. Na estação do ICT localizado no Pólo da Mitra da Universidade de Évora (cerca de 10 km da cidade para Oeste) a precipitação acumulada no mesmo período foi de 15,9 mm ainda assim uma precipitação muito elevada. Em Portel, a estação do ICT não registou qualquer precipitação.

Ainda dia 21 e durante este período, a velocidade média do vento foi de 20kms/h tendo mesmo atingido os 55kms/h às 19:31h, hora local. Também a temperatura registou uma quebra abrupta de 16 ºC tendo descido de 32º às 17:00h para 16º às 18:50h.

Este fenómeno meteorológico teve origem numa depressão isolada em altitude, um sistema meteorológico também conhecido por gota fria ou por cut-off que se forma a partir de uma perturbação da corrente de Oeste nas proximidades do jato polar. Esta perturbação traz ar mais frio, em níveis elevados, dando origem a uma grande bolha, uma gota de ar mais frio rodando no sentido ciclónico (anti-horário) na média e alta troposfera. A deslocação deste sistema sob uma região em que a superfície está muito quente e portanto com uma camada atmosférica adjacente muito instável, favorece a convecção, dita profunda, com um intenso movimento vertical, dando origem à condensação do vapor de água, transportado pela circulação de Sul (com origem atlântica) e a nuvens muito espessas, os cumulonimbus.

As imagens de radar mostram que este sistema de nuvens se formou a Oeste/Noroeste de Évora, intensificando-se mesmo à entrada da cidade às 19:00h hora local (18:00 UTC) com valores de refletividade elevada. Às 19:15h hora local (18:15 UTC) já em cima da cidade, atinge o vermelho/rosa (Intensidade de precipitação entre 70-200 mm/h) e às 19:30h (18:30 UTC) apresenta-se com refletividade máxima localmente (> 200 mm/h). O sistema convectivo retornou a uma intensidade de 70-200 mm/h às 19:40h (18:40 UTC) até se dissipar gradualmente. (Fonte – IPMA).

Por sua vez, os intensos movimentos verticais das partículas de água líquida e sólida provocam uma separação de cargas elétricas criando elevadíssimas diferenças de potencial entre diferentes regiões das nuvens e entre estas e a superfície. Estas diferenças de potencial dão origem a descargas eléctricas, os relâmpagos, na maioria dos casos entre nuvens, mas por vezes nuvem-superfície, como é bem sabido, e no dia 21 foi particularmente visível e aterrador.

Os serviços de protecção civil registaram a ocorrência de 74 inundações e a queda de 6 árvores. Deflagrou ainda um incêndio provocado por um raio que foi rapidamente apagado pela precipitação”.

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