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Terça-feira, Março 19, 2024

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“No concelho de Redondo, chegou a haver 40 olarias, agora são só 4. Os jovens não sentem motivação para entrar na arte”, diz oleiro Manuel Pirraça (c/som e fotos)

À margem da visita do vice-presidente do Partido Social Democrata (PSD), Salvador Malheiro, ao concelho de Redondo, no passado sábado (dia 26), onde esteve numa olaria, a Rádio Campanário falou com Manuel Inácio Farias Pirraça, oleiro do concelho de Redondo.

Manuel Pirraça conta que já trabalha naquele ofício “desde os 11 anos, portanto, há já mais de 50 anos” e que tem a sua loja e olaria naquele local desde 18 de maio de 1991. Conta que herdou a arte da olaria do pai, também oleiro no concelho de Redondo e que “embora tivesse, a partir de uma certa altura uma outra atividade, nunca perdi o contacto com a olaria, até que efetivamente formei esta olaria onde até hoje eu e mais quatro colaboradores exercemos esta atividade”.

Questionado sobre quais as evoluções ocorridas na arte da olaria, Manuel Pirraça explicou que “as transformações foram muitas, até por uma questão de as coisas se terem alterado ao longo dos tempo, como os vidros e os fornos elétricos, que eram necessários, pois os vidros têm de se desenvolver a umas temperaturas mais elevadas e daí se não houver um mobiliário refratário, isso não se conseguia”.

“Hoje é muito difícil, eu diria até impossível, a gente exportar para certos países, porque tem de ir um certificado em que a louça está dentro dos parâmetros normais. Temos os valores para a Europa, temos uns valores também para os Estados Unidos, nomeadamente para o Estado da Califórnia, e nós obedecemos a todos esses critérios e só assim conseguimos fazer algumas exportações”, descreveu o oleiro.

Na sua opinião, a olaria no concelho de Redondo “podia ter evoluído muito mais. Podia não ter deixado de ter aqueles pergaminhos, em termos de emprego, mas nunca ninguém quis olhar para isto de uma forma diferente”.

“Houve dois cursos de olaria que não deram absolutamente em nada, porque os jovens não sentem motivação para entrar na arte. Eu uma vez alertei para isso. (…) Podiam preocupar-se menos com os cursos, porque o aprendiz ou alguém que goste de estar na arte vem por acréscimo. Isto também bastava procurar os importadores e exportadores, retalhistas, entre outros, que vissem a nossa bolsa, conforme os estrangeiros que visitam a minha olaria e para eles isto era algo que não imaginavam, daí poder-se tirar alguns proveitos”, explicou.

Manuel Pirraça afirmou que nada se tem feito para cativar pessoas para o ofício da olaria – “Nada se tem feito nessa matéria, porque vem o dinheiro da União Europeia para se fazer o curso de olaria, faz-se o curso e não há mais nada. Não se procurou porque inclusivamente as entidades locais baseiam-se muito nas verbas que têm e sabem que as coisas se resolvem facilmente. Não se procura desenvolver a atividade (…)”.

O oleiro salientou ainda que “mesmo antes deste surto epidémico, as coisas já não estavam bem. Mas nós vimos o que se passou com o setor dos têxteis, do calçado, em que lutaram e enfrentaram o problema e hoje em dia as coisas mudaram substancialmente. Com as devidas repercussões, as coisas também se alteraram no Redondo. Se há pessoas que entram na loja e visitam a olaria e ficam admirados com tudo isto, também ficariam admirados lá fora. E eu acho que muitos deles não conhecem, e daí nós podermos dar a conhecer, das mais diversas formas e talvez das mais simples do que parece. (…) O que é preciso é dar-nos a conhecer às pessoas que são de fora do concelho as nossas obras e apostar, por exemplo, em Feiras Internacionais”.

O oleiro referiu que atualmente a atividade da olaria no concelho de Redondo está baseada a quatro olarias, “mas já chegou a ter 40. E na altura em que houve um desenvolvimento, apareceram outras atividades. Inclusivamente houve aqui uma fábrica de peles. Eu conheço vilas mais pequenas que o Redondo, cujas firmas têm até 90 postos de trabalho”. Na sua olaria emprega neste momento quatro pessoas, mas “podiam ser 15, se as coisas fossem feitas de outra maneira”. Quanto aos clientes, “temos os clientes nacionais e depois exportamos para os EUA, temos um importador no Brasil e este mês já seguiram duas encomendas para Espanha e também para a Alemanha”. Os contactos que tem “já os tenho há muitos anos. Outros localizam-se pela Internet. Tenho clientes que vendo paletes de loiça”.

Manuel Pirraça sublinha que as redes sociais “são imprescindíveis e conseguem-se tirar alguns proveitos”.

O oleiro referiu que “na Agenda 21, em que eu participei com o artesanato daqui de Redondo, foi feito que deveria haver uma Embaixada do Artesanato, em que juntasse todas as atividades artesanais, que percorria as principais feiras para tornar as coisas mais fáceis. E devia haver subsídios para se poder estar em Feiras artesanais fora de Portugal”.

Manuel Pirraça confidenciou-nos que “há dias, um cliente contactou-me para saber qual a minha capacidade para os fornecer. Isso torna-se bastante subjetivo dar uma resposta a um potencial cliente. Também a loiça que ele quer talvez seja feita em serigrafia, e nós aqui não fazemos isso. Nós pintamos à mão”.

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