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Sexta-feira, Abril 26, 2024

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Conheça a lenda da Reconquista do Castelo de Monsaraz com a Ajuda de Seis Vacas 

CM Reguengos de Monsaraz

Após o falecimento do rei D. Fernando, em 22 de Outubro de 1383, a herdeira direta do trono de portugal era a sua legítima filha Dª Beatriz que, estava casada com D. João I de Castela, logo a Nobreza portuguesa ficou alarmada com o perigo do Reino de Portugal ser anexado ao reino de Castela, surgindo a chamada crise política de 1383-1385! 

Algumas Praças portuguesas apressaram-se a aclamar Dª Beatriz, colocando-se a seu lado, entre essas Praças foi a de Monsaraz, cujo Alcaide era D. Gonçalo Rodrigues de Sousa.

Como sabemos, a situação política levou outro rumo, com a aclamação do Mestre de Avis que, veio ser o rei D. João I, assim, as Praças que estavam ao lado de Dª Beatriz desistiram e aclamaram, imediatamente D. João I, mas D. Gonçalo Rodrigues de Sousa, sabia que, os castelhanos mais cedo ou mais tarde, entrariam em Portugal e, pensou que, facilmente tomavam este Reino, por isso, tentou resistir e, não entregou o Castelo de Monsaraz ao nosso rei D. João I! 

O rei de Portugal, em 1384, chamou D. Nuno Álvares Pereira à sua presença, em Évora e, disse-lhe que fosse reconquistar Monsaraz e passar um corretivo ao seu Alcaide, pelo seu desrespeito ao Reino de Portugal. 

D. Nuno Alvares Pereira, saiu de Évora com um pequeno exército e dirigiu-se a Monsaraz, pediu para o Alcaide lhe abrir as portas do Castelo e entregar a Praça, a qual, era do Reino de Portugal! O Alcaide negou-se a cumprir a ordem, mandando fazer algumas manobras de intimidação que, fizeram arredar o exército do futuro Condestável até ao Telheiro, onde se instalaram para organizar uma estratégia de ataque ao Castelo de Monsaraz, mas a primeira medida foi cercá-lo, para não deixar entrar água, comida, armas, nem ninguém.

D. Nuno Álvares Pereira, reuniu-se com os mestres de guerra para ouvir as suas ideias, mas nenhuma tinha lógica na conquista de uma das Praças mais difíceis de conquistar, só encontravam uma maneira, era cercar Monsaraz até à sua rendição, mas isso, podia levar muitos meses e não existia exército disponível para isso, porque sabiam que a invasão das tropas castelhanas estava para muito breve, mas não podiam deixar Monsaraz entregue ao Alcaide, porque esta Praça podia tornar-se uma base operacional dos castelhanos.

D. Nuno Álvares Pereira, tinha a sua tenda instalada no Telheiro, onde fazia as reuniões, comia e dormia, era aqui, que dava voltas à cabeça sobre a maneira de entrar o mais rapidamente possível no Castelo de Monsaraz, mas não conseguia encontrar uma solução.

A população e lavradores das redondezas, davam apoio incondicional às tropas de D. Nuno Álvares Pereira, empenharam-se a fornecer informações sobre os mantimentos que podiam existir dentro do Castelo, sendo opinião geral que, teriam água e comida para cerca de um mês, mas para D. Nuno Alvares Pereira era tempo de mais para o exército ali permanecer.

Os dias iam passando, D. Nuno Álvares Pereira estava cada vez mais impaciente, todos os dias mandava mensageiros ao Alcaide com promessas que, no caso de se render, não seria molestado, ainda seria recompensado, porque prestaria um bom serviço ao rei, mas a resposta era sempre a mesma, não se rendia, porque a Praça era de Dª Beatriz! 

Numa noite, estava D. Nuno Alvares Pereira, na sua tenda, depois de passar pelas brasas, surgiu-lhe uma ideia que, correndo bem, podia ser a solução para tomar o Castelo de Monsaraz. De madrugada mandou chamar um lavrador do Termo de Monsaraz que, tinha grande manada de vacas, contou-lhe o que estava a pensar fazer, pedindo-lhe a sua ajuda, disse-lhe que bastava emprestar-lhe seis vacas, com aparência de mansinhas, mas na realidade, tinham de ser loucas, que não se deixassem apanhar de maneira nenhuma, depois, durante uma noite bem escura, levariam-nas, esfaimadas, a pastar para as portas do Castelo, onde havia muito boa pastagem, como o Alcaide, decerto, já tinha poucos mantimentos, ambicioso como era, para resistir, até à chegada dos castelhanos, não hesitaria em as tentar recolher, mas para isso, tinha de mandar abrir as portas do Castelo, seria nesse momento que, um grupo dos melhores homens de D. Nuno, antes bem escondidos no meio das ervas e mato, entravam, não deixando fechar as portas, até à chegada do exército que, já teria preparados os melhores ginetes e cavaleiros que voavam do Telheiro a Monsaraz.

O lavrador, achou a ideia muito boa e, foi logo escolher as vacas malucas da sua manada, depois, estudaram as fases da lua, para escolher a noite mais escura em que deviam levar as vacas sem serem vistos, fizeram passar muita fome às vacas, para as mesmas, se deitarem à erva sem abalar das portas do Castelo.

Os homens bem armados e bem escondidos, ficaram à espera do que podia acontecer, quando de manhã, o Alcaide descobrisse as vacas! Não foi necessário esperar muito, ao raiar da aurora já havia burburinho, os homens do Alcaide andavam em volta do Castelo a observar se existiam movimentos estranhos, sendo o aparecimento das vacas, logo transmitido ao Alcaide, o qual, tal como, D. Nuno Alvares Pereira pensou, reuniu-se com os seus homens e decidiram consultar os seus cúmplices avistados no lado de Castela, no Castelo de Cuncos, os quais, recolhiam informações na retaguarda das tropas portuguesas e, transmitiam para Monsaraz, através de sinais de bandeiras! 

Quando a visibilidade o permitiu, os homens do Alcaide, pediram informações através das bandeiras, perguntaram como estava a situação, quanto ao cerco? Os cúmplices, responderam logo, que tinha havido mudança, quase não havia homens no cerco, tinham recolhido ao Telheiro, estavam a levantar as tendas, dando sinais que, pelo menos parte do exército devia abandonar aquele lugar, porque, os exércitos castelhanos já estavam perto do reino de Portugal! 

Esta informação, foi logo transmitida ao Alcaide, o qual, mandou que perguntassem, quanto tempo levaria o exército castelhano a entrar no reino de Portugal! 

A resposta foi rápida, mas não agradou ao Alcaide, os cúmplices, responderam que, nunca menos de um a dois meses, porque, ainda havia muita logística a preparar! O homem ficou aterrado, mandou reunir os seus homens e disse-lhe que abrissem bem os olhos, porque estava muito desconfiado que, as vacas era um isco do inimigo, para lhe abrir as portas do Castelo, mas se de verdade, o exército estava no Telheiro e uma parte em marcha para norte, se alguma coisa corresse mal, nunca chegariam a tempo de impedir o fecho das portas, mas continuava desconfiado e a dizer para abrirem bem os olhos não estivessem alguns homens mais próximos! 

Os homens do Alcaide, passaram toda a manhã a observar metro a metro, as imediações do Castelo! As vacas encheram bem a barriga de boa erva e, nem a propósito, deitaram-se mesmo encostadas à porta do Castelo, os homens do Alcaide não queriam acreditar, até pulavam de contentes, alguns já estavam a comer bifes e outros a molhar sopinhas no petisco, diziam ao Alcaide que era só abrir a porta e elas caiam lá dentro, não havia nenhum perigo, não podia desperdiçar aquela dádiva, era a única forma de aguentar a Praça até à chegada das tropas castelhanas! Tanto insistiram que, o Alcaide convencido que não havia perigo, mandou abrir as portas do Castelo de par em par para a entrada triunfal das vaquinhas, as quais, como sabemos, não batiam bem, pareceu-lhe tão mal, serem incomodadas na ruminação que, quando as mandaram levantar, começaram a soprar e a esgravatar, levantaram o rabo e pareciam que tinham asas, correndo pelo outeiro de Monsaraz abaixo! Os homens do Alcaide, desiludidos por ver o petisco, já certo, a fugir-lhe, começaram todos a correr atrás delas e, nem quiseram mais saber das portas do Castelo! Quando se aperceberam do engano, já era tarde, tinham os cavaleiros do exército de D. Nuno Alvares Pereira, junto deles, nem reagiram e, os homens que estavam escondidos, entraram sem pressa, prenderam o Alcaide D. Gonçalo Rodrigues de Sousa e, estavam a ser aplaudidos pela população de Monsaraz. 

As vacas do lavrador Manoel Souto que, ajudaram a libertar Monsaraz, foram direitinhas à manada, de barriga cheia e com a sua missão cumprida. 

O Alcaide Gonçalo Rodrigues de Sousa é, exatamente do mesmo tempo do Alcaide Pêro Rodrigues (O encerra bodes) do Alandroal e, do Alcaide Álvaro Gonçalves (O coitado) de Vila Viçosa que, ao contrário do citado na lenda, prestaram bons serviços ao Reino de Portugal.

“Texto Correia Manuel”

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