A longa-metragem de animação “Nayola”, de José Miguel Ribeiro, que tem a guerra civil em Angola como pano de fundo, a partir da história de três gerações de mulheres, é exibida em Montemor-o-Novo, no distrito de Évora, este sábado.
A sessão, uma “antestreia especial”, está marcada para as 18:00, no Cineteatro Curvo Semedo, na cidade alentejana que é a ‘casa’ da Praça Filmes, produtora do filme, em coprodução com Bélgica, França e Países Baixos.
“É especial porque é em Montemor-o-Novo, a cidade que nos acolhe, e porque é aberta apenas a convidados, como a equipa do filme ou entidades que financiaram o projeto”, disse hoje à agência Lusa Ana Carina Estróia, da Praça Filmes.
Com um orçamento de aproximadamente 3,2 milhões de euros, “Nayola”, do realizador José Miguel Ribeiro e com argumento de Virgílio Almeida, é baseada na peça de teatro “A Caixa Preta”, de José Eduardo Agualusa e Mia Couto.
Em declarações à Lusa, o realizador também salientou hoje que, para mostrar o filme pela primeira vez em Portugal, “tinha de ser em Montemor-o-Novo, como agradecimento” pelo acolhimento de “há muitos anos”.
O filme, de 83 minutos e que cruza animação em 2D e 3D, já está a percorrer o circuito dos festivais, tendo a estreia sido em junho, na seleção oficial do Festival de Annecy, em França.
José Miguel Ribeiro indicou que o próximo certame é a 66.ª edição do Festival de Cinema de Londres, que vai acontecer de 05 a 16 de outubro, seguindo-se depois outros festivais.
“Também já se estreou em Moçambique [em duas projeções distintas], que foram as primeiras projeções em África”, frisou.
Quanto à estreia em sala, no circuito comercial, vai acontecer “entre meados de fevereiro ou meados de março do próximo ano, em simultâneo em Portugal, na Bélgica e na Holanda”, revelou.
Com um longo e premiado percurso na animação, José Miguel Ribeiro faz a sua estreia nas longas-metragens com “Nayola”, um filme que, assumiu à Lusa, foi “feito para o público africano”.
“Estive sempre muito atento aos pormenores, para não subverter” a peça teatral de Mia Couto e Agualusa, “nem fazer um filme mais para um público ocidental do que para um público africano”, sublinhou.
A película, que ganhou um concurso de longas-metragens do Instituto do Cinema e Audiovisual (ICA) e recebeu um milhão de euros de apoio, levou nove anos a ser feita e atravessa três gerações de uma família angolana, a partir da vida de três mulheres – Lelena, Nayola e Yara -, com a guerra civil de Angola como pano de fundo.
A peça teatral “conta um dia na vida das três personagens e nós acrescentámos a esse dia uma viagem da protagonista, Nayola, que parte para o interior de Angola, para a guerra civil, à procura do marido que desapareceu em combate”, relatou.
Paralelamente, Lelena e Yara, mãe e filha de Nayola, respetivamente, vivem em Luanda e “um dia há um estranho que entra pela casa, mascarado, com umas calças militares. A avó, para proteger Yara, dá-lhe comida e começam a falar e, mesmo sem revelar a sua identidade, vamos começando a conhecê-lo”, resumiu o realizador.
Segundo José Miguel Ribeiro, o que o atraiu para fazer este filme foi o facto de a história ser “contada sob uma perspetiva feminina” e mostrar “três gerações de mulheres angolanas que atravessaram a guerra colonial, a guerra civil e os primeiros tempos já de independência e de paz”.
“E o que é interessante em Angola é que as mulheres, especialmente nas grandes cidades, estão muito presentes e são importantes nos movimentos de decisão e de procura e de luta pela justiça, do percurso democrático que todos os países têm de fazer e que Angola está a fazer. E as mulheres estão aí, muito no centro”, destacou.