21.5 C
Vila Viçosa
Segunda-feira, Abril 29, 2024

Ouvir Rádio

Data:

Partilhar

Recomendamos

Ucrânia: Ciclistas russos falam da sorte de poderem competir no pelotão português

 Os russos Viktor Manakov e Aleksandr Grigorev coincidem na sorte que têm em estarem integrados no pelotão português e na defesa de que desporto deveria ficar “fora da política”, ansiando pela paz na guerra na Ucrânia.

“Há muita coisa a mudar neste momento. É um grande problema para todos nós desportistas, especialmente porque estávamos a viver a nossa vida e tudo mudou repentinamente. Eu sou o sortudo que conseguiu estar numa equipa europeia e pode fazer o que gosta. Os restantes foram ‘eliminados’ do desporto e têm de permanecer na Rússia”, assumiu Viktor Manakov, em declarações à agência Lusa.

O corredor da ABTF-Feirense não está sozinho nessa perceção, já que também Aleksandr Grigorev recorre à palavra “sorte” para definir a sua realidade, num contexto em que a União Ciclista Internacional (UCI) decidiu suspender as seleções nacionais russas e retirar as licenças às equipas deste país e da Bielorrússia, na sequência da invasão da Ucrânia.

“No início, claro, estava muito preocupado por esta situação [guerra] e agora, que estou a competir, que estou a praticar desporto e estou mais concentrado, pelo trabalho que tenho de fazer nas provas, sinto-me um pouco melhor. Mas claro que nos países afetados pelo conflito a situação é muito má. Sinto muito”, disse à Lusa o corredor da Atum General-Tavira-Maria Nova Hotel, à margem da 39.ª Volta ao Alentejo.

O russo mais algarvio do pelotão nacional – está há cinco anos na equipa de Tavira – ‘saltita’ entre o português e o espanhol para vincar que “o desporto está fora da política”.

“Somos ciclistas e estamos aqui para unir todos os países e isso é muito importante para mim e para todos, penso eu. Sinto muito esta situação, esta guerra. Quero apoiar todos os meus amigos da Ucrânia e da Rússia também e a minha família. Desejo a paz e que fique tudo bem”, declarou.

O mesmo é defendido por Viktor Manakov, que considera que a decisão da UCI “não é correta”.

“Mudar todas as roupas e cores não significa nada. Aqui, como equipa, não há bandeiras russas, eu não sou campeão nacional, por isso, para mim, nada mudou com estas novas circunstâncias”, respondeu num inglês quase perfeito, ao ser questionado sobre o facto de não poder competir sob a bandeira russa.

A dar as primeiras pedaladas no pelotão nacional após nove temporadas em equipas russas, intercaladas por uma experiência na Leopard Development Team (2015), Viktor Manakov confessa que, apesar de ser um ‘privilegiado’, é complicado estar em Portugal, “porque o câmbio está a baixar, a vida aqui está a tornar-se mais cara”.

“Todos esperamos que [a guerra] acabe rápido, mas está a prolongar-se e prolongar-se. Estamos simplesmente a aguardar para ver como vai acabar, porque ninguém sabe. O problema é que não será apenas mau para os países em conflito, será para todo o mundo”, vincou.

Na equipa, notam o russo de 29 anos mais cabisbaixo, às vezes preocupado, mas Manakov vai tentando manter o otimismo, procurando acreditar numa solução pacífica negociada para a guerra na Ucrânia.

“Não sou político, não percebo de economia, não posso dar a minha opinião porque não sei como funciona. Os meus pais vivem na Rússia e estão a sentir os efeitos económicos [da guerra]”, revelou o russo da Atum General-Tavira-Maria Nova Hotel, já mais integrado na vida (e no pelotão) nacional.

Uma imensa gratidão é o que se depreende do discurso de Grigorev, que elogia os colegas, mas também “os portugueses, a equipa, os patrocinadores, a Federação Portuguesa de Ciclismo”, que o apoiam e lhe dão ânimo neste momento difícil, iniciado em 24 de fevereiro, com a ofensiva militar russa na Ucrânia, que já causou pelo menos 726 mortos e mais de 1.170 feridos, provocou a fuga de cerca de 4,8 milhões de pessoas, segundo os mais recentes dados da ONU.

C/Lusa

Populares