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Domingo, Abril 28, 2024

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 Um cineasta natural de Vila Viçosa com obra Cinematográfica enraizada no Alentejo.

Fernando Matos Silva, cineasta nascido em Vila Viçosa em 1940, mas que viveu grande parte da sua vida em Lisboa, encontrou nas suas memórias de infância do Alentejo a inspiração para uma obra cinematográfica. Após um período de interregno na realização de longas-metragens, que se estendeu por doze anos após os desafios enfrentados com a produção de “Guerra do Mirandum” e o revés financeiro ligado ao projeto Filmecentro, Fernando Silva regressou às telas em 1993 com “Ao Sul”. Este marco foi apenas o início de uma fase em que o realizador se dedicou a capturar a essência do Alentejo, abordando-o sob diversas perspetivas nos seus trabalhos subsequentes.

Desde “Alentejo, As Quatro Estações” até “O Meu Avô Republicano”, filmado na  aldeia da luz, passando por outras obras ficcionais e documentais, o Alentejo tornou-se o palco central da sua narrativa. A série “O Espírito do Lugar”, um projeto encomendado pela RTP sob a direção de Fernando Lopes, foi um dos pontos altos do seu caminho, proporcionando um dos retratos mais ricos e detalhados da paisagem alentejana, comparável à magnificência de “O Pão”, de Manoel de Oliveira.

A câmara do cineasta, guiada por uma banda sonora repleta de elementos da música tradicional alentejana, percorre a região seguindo o ritmo das estações do ano, captando não só a beleza natural mas também as tradições, a cultura e a história que definem este território. “Alentejo, As Quatro Estações” destaca-se pela sua abordagem quase sinfónica à paisagem alentejana, explorando desde as práticas ancestrais da primavera às expressões artísticas do verão, passando pela reflexão sobre a decadência das civilizações no outono, até às celebrações da vida no inverno.

A narração, a cargo de Armando Baptista-Bastos, oferece um comentário que tanto realça como questiona as imagens, criando um diálogo entre o visual e o textual que enriquece a experiência cinematográfica. Esta tensão entre a representação pictórica da região e a realidade concreta das suas gentes e paisagens serve de base para uma exploração profunda do “espírito do lugar”.

Com a evolução tecnológica e a transição da película para o vídeo nos anos 90, Silva adaptou-se, explorando novas formas de produção que resultaram numa alteração estética notável. Esta mudança é evidente em trabalhos como “E Neste Nada Cabe Tudo – Sobre João Cutileiro”, onde a câmara ao ombro e o uso criativo de técnicas de edição permitiram uma abordagem mais dinâmica e íntima do tema.

A relação de Silva com João Cutileiro, evidente na exclusividade dada ao escultor em “Alentejo, As Quatro Estações” e explorada mais profundamente em “E Neste Nada Cabe Tudo”, ilustra uma amizade e uma colaboração que transcende o mero ato de filmar, revelando um diálogo contínuo entre duas formas de arte.

O legado de Fernando Matos Silva, portanto, não se limita apenas à sua capacidade de capturar a essência do Alentejo através da lente cinematográfica, mas também à sua habilidade em adaptar-se e explorar as mudanças tecnológicas e estéticas ao longo de sua carreira, mantendo sempre o Alentejo no coração de sua obra.

O realizador, frequentou na década de 60 a London Film School. Assinou em 1973 O Mal Amado, longa-metragem proibida integralmente pela censura, até ao 25 de Abril de 1974 após o que foi galardoada com o Prémio da Imprensa – Cinema (1974). O Rapaz do Trapézio Voador (2002).

Foto:  JACK BACK PACK

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